Eles estão em outra

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PR – Diante da aversão crescente da nova geração quanto a trabalhar na área industrial em geral, como encara o futuro da empresa familiar no setor plástico no Brasil?

 Wilson-CataldiWilson Cataldi, sócio executivo da distribuidora Piramidal
Cataldi – Eu entrei no setor aos 19 anos, em 1980, como funcionário da recuperadora Plásticos Birigui. Aos 22, fui contratado para trabalhar na produtora de poliestireno Proquigel. Naquela época, o Brasil tinha um viés industrial forte, empresas desenvolvendo produtos e crescendo com vigor ano a ano, situação muito diferente de hoje em dia. Afinal, há pelo menos uma década a indústria sofre muito com a falta de competitividade. Nosso setor de transformação nasceu com pessoas de formação industrial, como ferramenteiros e funcionários da linha de produção que se associaram a vendedores para formar um time completo, mas sem muita especialização em gestão. O mercado brasileiro teve então uma geração de ouro, que conseguiu dar cultura e informação aos filhos e, ao fazer as contas e verificar o ambiente de negócios, eles preferiram mudar de setor. Além do mais, viram seus pais naufragarem ou penarem muito para manter suas indústrias paradas em pé.

Um negócio feito pelo pai pode ser um grande peso para o filho; eu escolhi meu sócio e meu ramo – e amo o que faço. Ao forçar o filho a ser um sucessor, você o leva a assumir sócios e negócios que, possivelmente, ele não gostará. Isso faz toda a diferença e, em decorrência, ele será um infeliz no trabalho. A nova geração dá muito mais valor ao “Ser” do que ao “Ter”, preferindo fazer algo que a realize do que algo que dê muito dinheiro. São novos tempos. Os jovens de hoje têm um senso de urgência que não combina com a indústria.

Por vezes, você demora anos para realizar um projeto de manufatura. Eles não tem paciência, são muito mais imediatistas. Por sinal, esse senso de urgência, o reconhecimento de um mercado pouco competitivo na indústria e o aparecimento de novas formas de trabalho ajudam a explicar esse distanciamento da nova geração. Tenho quatro filhos. Os mais velhos são Felipe, 27 anos, à frente de uma empresa de TI, e Carolina, de 24, trainee na companhia de comércio digital B2W.

Amarrando as pontas, qual futuro então eu enxergo para a indústria familiar na cadeia do plástico? Resposta: eu acredito na perenidade de um mercado cada vez mais profissional, mais concentrado, com gestão de fato e a cargo de acionistas (donos) e executivos bem formados, capazes de cuidar da prosperidade dos negócios .

Rogerio-ManiRogério Mani, dirigente das indústrias de flexíveis Packseven e Epema
Mani – Nas últimas décadas, a indústria perdeu força no Brasil e, infelizmente, os jovens hoje não procuram mais o setor como primeira opção de emprego. E no âmbito da cadeia do plástico, nós, empresários transformadores, deparamos hoje com um problema de sucessão; será preciso um esforço muito grande para seduzir nossos herdeiros a seguir no negócio.

É um ambiente sem nada a ver com o do meu ingresso no ramo. Começei a trabalhar no setor com 14 anos, na década de 1970, como office boy da Plastimil/Fortymil. Naquela época, era comum pais orientarem os filhos a procurar colocação numa indústria. Além da possibilidade de conciliar trabalho e estudos, pesavam na balança as chances maiores de ascensão profissional, além de a indústria pagar salários melhores a quem não tinha parentes como proprietários do negócio.

Obviamente, tudo mudou de lá para cá. Comparados à minha geração, os jovens de hoje são mais preparados, ingressam no mercado de trabalho mais tarde e carregam uma bagagem acadêmica maior. Nesse sentido, aliás, eu enxergo um grande hiato entre a indústria de transformação de plástico e o ensino superior, a exemplo do desconhecimento generalizado entre os universitários do fato de o nosso setor estar entre os que melhor remuneram os empregados – uma prova evidente de que precisamos rever nosso poder de comunicação.

Tenho a sensação de que, hoje em dias, as universidades não incentivam a nova geração a ser empreendedora. Uma vez formada, a grande maioria dos jovens sonha em trabalhar num banco e ficar rico logo. Do outro lado, a indústria não se dá o devido valor e é vista por muitos – eu inclusive – como um grande pepino a ser descascado. Mas, se pensarmos positivamente, o Brasil crescerá movido pela indústria.
Existe a preocupação de trazer essa geração mais antenada para nosso setor, pois ele precisa de talento e continuidade.

Confio numa migração natural, à medida que a indústria for se consolidando, modernizando e se internacionalizando. Enfim, existe a preocupação de trazer essa geração mais antenada ao nosso setor, pois ele precisa de talento e continuidade. Por pensar assim, a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) decidiu criar o chamado Conselho Jovem, para dar espaço aos futuros gestores. Não é por outra razão que o programa PicPlast (Abiplast/Braskem) oferece aos transformadores um módulo dedicado à sucessão familiar.

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