Economia circular entregue de bandeja

Plastimil recicla canudos e copos pós consumo para reuso no McDonald’s

Descartáveis plásticos estão na linha de tiro dos ambientalistas e passam um cortado na cobertura cotidiana da grande imprensa, onde são vilanizados como poluentes que parecem agir por vontade própria, pois nenhuma crítica é feita pela mídia e defensores da natureza a quem faz a destinação incorreta do refugo. Para contestar essa noção distorcida do descartável e demonstrar sua reciclabilidade, em sintonia com o culto ao desenvolvimento sustentável, a rede de fast food McDonald’s insere a uma montoeira de ações de cunho ambiental, como tirar poliestireno convencional e expandido de seu portfólio, a intenção de reciclar e reaproveitar em outros artefatos transformados que utiliza os resíduos de seus descartáveis de polipropileno (PP).No Brasil, a proposta começa a sair do papel em lojas na Grande São Paulo, com um pé de apoio na recicladora Plastimil, como adianta na entrevista a seguir o diretor Ricardo Mason.

Mason: separação no ponto da origem
viabiliza reciclagem de descartáveis.

Quando e como começou este projeto com o MCDonald’s?
A ideia surgiu como solução para a reciclagem dos canudos plásticos pós-consumo do McDonald’s, desafio proposto a nós em agosto passado pelo Instituto de Embalagens. Àquela época, estávamos em meio à “guerra dos canudos plásticos” e, entre os efeitos dos ataques ambientalistas, veio a proibição do produto em 2018 no Rio. Uma vez analisada a proposta, partimos para o desenvolvimento da aplicação final. De início, fizemos testes com reciclado de canudo e copo numa peça injetada menor, um porta-objetos, em parceria com a transformadora Dello, vislumbrando a possibilidade de distribuí-los como brindes a funcionários do McDonald’s, fechando assim o ciclo da economia circular. A partir desse experimento bem sucedido, resolveu-se partir para um produto do portfólio do McDonald’s, a bandeja. Para isso, fizemos ajustes na composição da resina de PP recuperada, mediante aditivação, alterando a fluidez e outras características, caso de flexão e contração, adequando o material para a injeção das bandejas pela transformadora Semaza. Por ora, os os testes são preliminares e, portanto, realizados com volumes reduzidos (entre 500 e 1.000 kg) e a matéria-prima, os canudos pós-consumo, provêm da própria rede McDonald’s. A viabilidade econômica do projeto é condicionada pelas etapas de coleta, separação, moagem, lavagem, granulação e injeção. O primeiro lote piloto de lavagem e granulação foi realizado em outubro último. A injeção das bandejas iniciais ocorreu entre outubro e novembro passado. Os testes finais estão programados para fevereiro e março deste ano e, uma vez consolidados os resultados e a dinâmica da operação, manda a lógica que o raio da proposta se amplie, vencendo o desafio logístico do transporte do canudo pós-consumo. Nesse sentido, aliás, seria ideal dispor de um esquema de separação do refugo no ponto de origem, a exemplo de restaurantes, o que também depende de uma mudança cultural e de adaptação da infraestrutura do estabelecimento.

A Plastimil pretende tomar a iniciativa de oferecer, em parceria com catadores e transformadores, ações similares de economia circular a outras empresas usuárias de descartáveis plásticos?
Já estudamos projetos desse tipo com outras indústrias de descartáveis e empresas de segmentos fora da esfera de fast food. Nesse sentido, uma vantagem é o conhecimento de indústrias transformadoras potenciais interessadas, repassado para a Plastimil pela atividade de distribuição de resinas virgens exercida pela Fortymil, empresa integrante do nosso grupo. Além do mais, o fato de a Plastimil acumular 48 anos de mercado, com experiência na logística de resíduos pós-industrial e pós-consumo, com investimentos constantes em tecnologias de reciclagem, granulação e desenvolvimento de materiais customizados, nos permite propor soluções diferenciadas desde a separação do resíduo no ponto de origem à performance em vista para o produto final. Portanto, a economia circular nos abre um mercado com forte tendência de crescimento e cheio de desafios. Nem todas as iniciativas cogitadas serão economicamente viáveis, mas todas devem ser estudadas.

Quais os encargos de cada participante da ação conjunta com o McDonald’s?
O McDonald’s efetua a separação entre resíduos orgânico e reciclável (copos e canudos) e remete este último à cooperativa de catadores Cooper Yara, incumbida de segregar os refugos de PP. Em paralelo, a Plastifama, fabricante dos canudos para esta rede de fast food, faz o mesmo com suas aparas de processo. Ambas as sucatas são encaminhadas à Plastimil, onde passam por moagem, lavagem, aditivação, granulação e controle de qualidade da resina reciclada. A seguir, o material segue para a injeção de porta-objetos pela Dello e de bandejas pela Semaza, que as remete por fim ao McDonald’s. Por se tratar de projeto piloto, os testes se concentram o em oito lojas da rede em Barueri, na Grande São Paulo. Junto com a Plastifama, elas enviam os refugos à Cooper Yara. De início, as bandejas serão exibidas em loja conceito do McDonald’s na zona oeste paulistana. Para ampliar o engajamento dos consumidores, o Instituto de Embalagens criou um papel de bandeja explicando a ideia e a plataforma de marketing social Gooders lançou vídeo de realidade aumentada (disponível no YouTube).

Qual a estimativa do volume regular de refugo de canudo a ser reciclado pela Plastimil, e qual a quantidade de recuperado exigida para a produção da bandeja?
Os volumes dos lotes regulares não estão definidos, pois ainda estamos em fase preliminar. De início, a Plastimil produziu 800 quilos de reciclado. O volume ideal seria de, pelo menos, 3t/mês. Como se trata de projeto conceitual, iremos trabalhar com quantidades menores. Cada bandeja, injetada na cor marrom, pesa 330 gramas. O grande desafio para a lavagem e reciclagem desses canudos pós-consumo está, de saída, no custo de frete, pois trata-se de refugo de densidade aparente muito baixa.

A proibição de canudos plásticos no Rio e de todos os descartáveis plásticos em Fernando de Noronha vem tendo bem mais repercussão do que iniciativas empresariais de economia circular como esta do McDonald’s, cuja penetração não extrapola os limites de sua clientela. O que sugere às empresas para suas ações de sustentabilidade conseguirem desfrutar real conhecimento e apoio do grande público?
A divulgação e propagação das informações constitui um grande desafio para o segmento dos descartáveis plásticos. Infelizmente, notícias ruins ou de alto impacto visual danoso, como a imagem da tartaruga de canudo entalado na narina, geram maior repercussão e audiência, através da internet e aplicativos de mensagens, que os registros positivos para o plástico. Ainda assim, julgo que projetos institucionais de cunho sustentável, como este das bandejas de reciclado de canudos, devem ser difundidos para além do limitado universo das empresas participantes. Precisam figurar em todas as frentes da mídia física e digital disponíveis para alcançar a grande massa populacional. Acredito também na necessidade da formatação de um canal que consolide essas ações e assim tenha mais força para levá-las ao conhecimento publico. Por fim, há uma ficha que precisa cair no setor plástico antes que seja tarde demais: aplicar recursos na comunicação em grande escala de seus feitos e posições não é custo, mas investimento. •

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