Do lixo ao ouro

Startup Integra formula bioplástico versátil de refugo de biodiesel

circuloA pressão do culto do desenvolvimento sustentável é a viga de sustentação da pesquisa de biopolímeros, mesmo diante da sua força, até aqui insuficiente devido às baixas escalas, para abalar os alicerces do consumo de massa das resinas petroquímicas. Mas navegar é preciso e nada é para sempre, sinaliza a garra da Integra Bioprocessos e Análises, startup alojada no Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília. Voltada para o garimpo de micro orgânicos para produção de químicos a partir de matérias-primas renováveis, ela já tem pendurados em seu show room feitos como a pesquisa empreendida há quatro anos para gerar o bioplástico poli l-ácido polilático (PLLA) de refugo de biodiesel, estudo na reta para testes de industrialização e contemplado em dezembro com o Prêmio Kurt Politzer de Tecnologia 2016 concedido pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), na categoria empresa nascente.Nesta entrevista, a doutora em Engenharia Química e PhD em biologia molecular Nádia Skorupa Parachin, sócia fundadora da Integra, explica a premissa sustentável desse desenvolvimento e dá uma prévia das oportunidades para quem tope investir na escala comercial de PLLA.

Nádia Parachin: tecnologia vai revolucionar o mercado.
Nádia Parachin: tecnologia vai revolucionar o mercado.

PR – Porque a Integra selecionou glicerol cru como matéria-prima para formular PLLA ?
Nádia Parachin – O glicerol cru é uma matéria-prima amplamente disponível no mercado brasileiro e, em decorrência, barata. Trata-se de um resíduo na cadeia produtiva de biodiesel, na qual 10% do volume total corresponde ao glicerol cru. Ou seja, para nove litros de biodiesel produzido temos um de glicerol. Como o Brasil é o segundo produtor mundial de biodiesel, agregar valor ao glicerol faz sentido. Por contarmos com uma levedura capaz de crescer muito melhor em glicerol do que em açúcares como sacarose e glicose, resolvemos explorá-la para produzir químicos biodegradáveis. Dessa forma, o que a Integra fez foi modificar essa levedura geneticamente para otimizar a conversão do glicerol em L-ácido lático, o monômero de PLLA. Assim a empresa consegue “transformar lixo em ouro”, por utilizar um resíduo considerado um problema ambiental em muitas indústrias (que pagam para realizar o descarte), como matéria-prima para gerar um químico de alto valor agregado.

PR – O ácido lático (PLA), biopolímero mais produzido no mundo, tem sido formulado a partir de amido de origem agro. Como o Brasil é uma agropotência, por que a Integra optou por uma rota de PLLA fora das facilidades desse setor?
Nádia Parachin – A rota de produção da Integra não deixa de estar ligada à agricultura, pois a maior parte do biodiesel brasileiro tem como base a soja e culturas de mamona, palma e dendê. Com isso, usamos uma matéria-prima de origem renovável e, sobretudo, ela não faz parte da nossa dieta. É um resíduo do processo. Não nos alimentamos de glicerol como de amido ou outros açúcares de milho e cana. Dessa forma, o processo desenvolvido pela Integra não compete com a indústria alimentícia.

PR – Quais as vantagens da rota da Integra rumo ao seu bioplástico perante as do amido da cana e milho para gerar PLA?
Nádia Parachin – Existem vantagens intrínsecas à levedura Integra. Por termos escolhido o glicerol, ela o converte com alto rendimento no intermediário necessário à produção de PLA, o ácido lático. Leveduras são em geral conhecidas por transformarem açúcares em etanol, mas a nossa consegue converter o glicerol em ácido lático. Esta molécula serve então como bloco de construção para o PLLA.

PR – Qual a diferença entre PLLA e PLA?
Nádia Parachin – PLA ou Poli ácido lático é a denominação genérica para o biopolímero a base de ácido lático. No entanto, quando especificamos de que se trata de PLLA, nos referimos ao biopolímero formulado apenas com um isômero de ácido lático – no caso, L-ácido lático. Existe na natureza uma mistura de L- e D-ácido láticos e o nosso processo produz de forma mais específica apenas o L-ácido lático. Da sua polimerização resulta o PLLA, um polímero cristalino e mais propício a aplicações na indústria de plásticos. Além disso, PLLA pode ser empregado na indústria de cosméticos, em formulações de medicamentos preenchedores de marcas de expressão facial. Por fim, por ser um polimero biocompativel, PLLA também pode ser utilizado na fabricação de materiais cirúrgicos auto absorventes, como linhas de sutura e biocurativos.

PR – Até hoje, bioplásticos como PLA têm, devido à baixa escala e custos elevados, seu uso limitado a embalagens para produtos premium de baixa tiragem. Em suma, bioplásticos em nada ameaçam as resinas petroquímicas em seus grandes mercados de massa. Como avalia as possibilidades de o PLLA formulado pela Integra ganhar real viabilidade comercial e escala industrial ?
Nádia Parachin – As aplicações de PLLA não se limitam à transformação de plásticos. Enquanto não houver produção nacional, sabemos que os custos de PLA no Brasil permanecerão mais altos. A Integra ainda está finalizando seus custos de produção, mas, pelos números gerados até o momento, posso garantir que a tecnologia de PLLA revolucionará o mercado.

PR – Já efetuou corridas piloto do seu PLLA em linhas de transformação de artefatos plásticos?
Nádia Parachin – Ainda não. Nosso produto está em processo final de validação da escala industrial. Assim que essa etapa estiver concluída, partiremos para validação de aplicações específicas, de acordo com demandas concretas. O projeto encontra-se,portanto, em escala pré-industrial. Foi iniciado em 2012 e, desde então, a grande maioria de seu custeio tem sido proveniente de subvenção econômica, parcerias entre a Integra e a Universidade de Brasília e dos recursos pessoais das sócias da startup. •

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