De volta ao time

Economia circular pode conferir ao transformador um papel titular no desenvolvimento de embalagens

Na segunda metade do século XX, quando o plástico engatinhava no Brasil, muitas embalagens ganharam a praça por terem sido propostas por transformadores daqui a indústrias de produtos de rápido consumo (alimentos, cosméticos, artigos de limpeza etc.). Era um tempo propício a essas práticas, pois havia um mundaréu de oportunidades para o plástico conquistar. Além do mais, a gestão das indústrias em geral era bem mais monocrática naquela época. Desse modo, o transformador submetia sua sacada, em regra algo visto por ele no exterior, em linha direta com a cúpula da empresa sondada.

De lá para cá, essa cena virou ficção. Sob a interferência da globalização dos negócios e da cadeia de suprimento, completada pela especialização e subdivisão da gestão empresarial, aconteceu uma inversão de papéis. As indústrias de produtos de rápido consumo passaram, em regra, a liderar a determinação de como suas embalagens devem ser, relegando o transformador daqui ao papel de um parceiro coadjuvante, quase um cumpridor de ordens e ajustes. Por tabela, aquele ímpeto audaz dos empreendedores da nossa primeira fornada da transformação, de propor no escuro novidades captadas pelo seu faro, também se diluiu com a pulverização de instâncias decisórias em empresas onde antes eles botavam as ideias cara a cara com o poder supremo. Agora, uma sacada dessas passa primeiro pela lupa de marqueteiros, analistas de mercado e de laboratório, designers, engenheiros industriais e por aí vai até que, com sorte e remendos, a proposta sobe bom tempo depois para o olhar do olimpo da companhia.

Pois este jogo pode mudar de novo. O tapete vermelho hoje estendido para louvação da economia circular por indústrias de produtos de rápido consumo as põe contra a parede. Diversas embalagens e materiais de uso consolidado nessas empresas estão na linha de tiro ambientalista, por motivos como a reciclagem complexa e cara, coleta e separação do descarte pós-consumo trabalhosas e economicamente inviáveis etc e tal. O diabo é que, hoje em dia, ordenar a solução capaz de substituir a embalagem rejeitada ou adequá-la aos mandamentos da economia circular depende de uma gama de informações e especificações de processo e performance que escapa da vocação e erudição das indústrias de produtos de rápido consumo. Para ilustrar o tamanho da encrenca, eis um trecho da publicação Caderno de Tendências 2019-2020 recém lançada pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. “O desafio para o setor é descobrir outras formas para continuar diminuindo o impacto ambiental que as embalagens podem produzir. E é importante mesmo continuar com esse olhar. Uma pesquisa realizada pela Euromonitor sobre Ethical Living (Vida Ética) apontou que, para um crescente número de consumidores, a percepção positiva sobre um produto não depende apenas do design da embalagem, mas também da forma como ela protege o ambiente interno (o produto) e não prejudica o externo (o meio ambiente)”.

Por essas e outras, formadores de opinião em produtos de rápido consumo hoje papagueiam na mídia a meta de tornar sustentáveis suas embalagens daqui a alguns anos e, para cumprir a promessa, buscam uma aproximação maior da cadeia do plástico, atrás daquela expertise fora do seu alcance. A título de referência dessa carência de conhecimentos, Plásticos em Revista tem procurado com assiduidade indústrias alimentícias e de bebidas (domésticas e múltis) devotas da economia circular para perguntar, por exemplo, se irão, como e quando trocar suas irrecicláveis embalagens multimaterial. A entrevista é sempre negada.

Tal como já fazem os produtores de resinas, os transformadores nacionais têm tudo para se envolver nesse esforço contribuindo para ajudar a decifrar o enigma do desenvolvimento de substitutos das embalagens condenadas pela economia circular. Vale o mesmo, aliás, para a concepção de embalagens mais ajustadas aos parâmetros dos filões ascendentes do atacarejo e do varejo digital, por exemplo. Não se trata de inventar a roda, mas de seguir a rota de adaptação à nova realidade já trilhada pelos principais transformadores de embalagens nos mercados desenvolvidos. Por sinal, a pressão ambientalista já levou há anos indústrias de produtos finais locais e múltis a contratarem gente qualificada para tocar divisões de sustentabilidade. “Até hoje desconheço indústria transformadora nacional que tenha feito o mesmo”, atesta Amarildo Bazan, diretor da Wise, ás da reciclagem de poliolefinas no Brasil.

Já passou da hora desse dever de casa.•

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