Contra as cordas

Crise acua o setor de máquinas e as válvulas de escape não são fáceis

É pegar leve com o setor de máquinas para transformação de plástico compará-lo a um destróier abalroado na tormenta por mísseis teleguiados. De todas as encostas da crise desabam avalanches a bloquear as vias de acesso aos equipamentos, desde as barreiras do crédito e câmbio ao naufrágio da demanda, mesmo em mercados antes tidos como fortalezas. Um exemplo de gelar o sangue, em particular, de sopradoras e injetoras: pela primeira vez em 23 anos, levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) flagra recuo no setor, vermelho de 5% nas vendas do primeiro semestre versus mesmo período em 2014.

“No plano geral, a retração contribui para os fabricantes de embalagens operarem com alta ociosidade” , pressupõe Newton Zanetti, diretor de comercialização da Pavan Zanetti, ponto cardeal em sopradoras nacionais por extrusão contínua. “Estou a par de casos de queda de 30% a 40% nas vendas, números horríveis para qualquer empresa”. Pelos lados de sua carteira de pedidos, Newton elege como menos afetadas pelo fuzuê do desgoverno as suas máquinas talhadas para os segmentos de água mineral, alimentos e produtos básicos de limpeza. Em relação a este último setor, o diretor pondera que a crise não tem ceifado tanto a procura por suas sopradoras por causa do preço menor e de uma prensa na dona de casa: escolher produtos de higiene e limpeza doméstica que não onerem seu orçamento. Quanto aos sinais de vida emanados por água mineral, Newton os credita ao calor atípico na primavera do Sul/Sudeste. “Estimulou o consumo de água, atenuando a intensidade da retração nas suas vendas, na mão oposta de outros setores usuários de recipientes soprados”.

Para ir atrás desses respiradouros da demanda , Newton reparte sua atuação num tripé. Na esfera da água mineral, coloca, a sopradora por acumulação HDL 20 L é a pedida para bombonas de 20 litros em polipropileno (PP). “Já as garrafas de água, tal como de sucos, são mercado das linhas de sopro e estiramento de pré-formas Petmatic”, interpõe o fabricante. Por fim, ele amarra, embalagens de produtos primários de limpeza atraem as sopradoras Bimatic: BMT 5.6S/H, de uma estação, e BMT 5.6D/H, de duas. Na contracorrente da paradeira, a Pavan Zanetti esporeia projetos para incrementar os recursos de suas máquinas. “Embora muitos transformadores evitem falar do assunto, a máxima de que nessas horas é que se deve investir é verdadeira”, pondera o industrial. “Parado ninguém sai de crise alguma; é preciso agora aplicar em produtividade, automação, redução de custos e preços”. Newton admite ser um drama vender essa ideia, mas com o tempo a ficha vai cair. “O empresário vai entender que nada se pode esperar do governo e começar a fazer seu trabalho”.

Frigel: o resfriamento passa ao largo das vendas

Crise hídrica, economia de energia e financiamento próprio. Na garupa dessa trindade, Marco Parigi, gerente de engenharia da Frigel Latino América, última palavra em sistemas inteligentes de resfriamento de água, toca o barco das vendas na correnteza atual. “Temos trabalhado muito sobre o apelo da estiagem, oferecendo em condições especiais de crédito um equipamento que não consome água e poupa mais eletricidade que a concorrência”, ele sustenta. No caso, as estrelas na vitrine são dois modelos construídos no Brasil: Ecodrygel e Microgel, ambos identificados com o controle refinado do processo e ganhos de produtividade. “Recorremos à nacionalização desses equipamentos para não ficar vulneráveis às variações cambiais”, justifica Parigi, sublinhando que a decisão livrou as duas linhas de alterações expressivas nos preços. Por sinal, ele distingue, o modelo Ecofrygel se enquadra nas exigências das linhas de crédito da Finame. Entre todos os campos da transformação de plástico abarcados pela tecnologia da Frigel, o executivo elege o mercado da injeção como o menos fustigado pela crise. “É por causa da maior quantidade de clientes e variedade de produtos”, ele atribui.

O disparo do dólar é outra enxaqueca para quem monta máquinas. “Temos alguns itens importados, em especial partes hidráulicas, pneumáticas e elétricas, além do CLP”, expõe Newton. “Esse gasto é reajusto direto pela variação cambial e nada há a fazer exceto ir atrás de contratipos nacionais de qualidade compatível com as exigências de nossos equipamentos”. A nitroglicerina do câmbio também explode na venda de injetoras chinesas pela Pavan Zanetti. “Como têm preço dolarizado, nada nos resta senão baixar por ora a margem de lucro. Quando importamos a máquina, a quitamos na cotação do dólar do dia do pagamento efetivo e a venda nem sempre segue esse padrão, pois relutamos em dolarizar o preço”, assinala o diretor. “Estamos estudando o que oferecer ao mercado para amenizar os efeitos dessa valorização abrupta e acelerada do dólar”. Também sobram estilhaços do câmbio para os lados dos agentes de máquinas do exterior, enxerga Newton Zanetti, na forma do risco de esses representantes não aguentarem a barra e fecharem as portas. “Isso vem acontecendo aos poucos, pois mesmo com o dólar em patamar médio o trabalho do distribuidor é complicado pelo diferencial do atendimento técnico”, ele pondera. “Vender a primeira máquina nem é tão difícil, mas a segunda depende da comprovação da qualidade do produto e da assistência prestada”. A ameaça de debandada de agentes periga ser catalisada pelo câmbio, martela a tecla Newton. “Grandes transformadores têm estrutura para continuar a comprar máquinas de fora sem distribuição direta aqui, mas os menores e médios serão prejudicados por dependerem do representante, dada a dificuldade para contatar direto o fabricante, em especial se for asiático. Enfim, quem comprar de empresas cujos escritórios no Brasil porventura fechem, vai ficar literalmente na mão”.

Tal como no balanço da Pavan Zanetti, água mineral pintou feito um oásis para as sopradoras por acumulação MX 20L da Romi no atual saara das vendas. “Bombonas para agroquímicos também se destacaram, em razão de novas demandas atreladas a mudanças na legislação ambiental”, emenda William dos Reis, diretor da unidade de negócios de máquinas para plásticos. O elo entre os dois mercados e o modelo MX 20L, ele estabelece, decorre da alta força de fechamento, maior área de molde e o controle de perfil de parison de até 512 pontos. “Esses atributos estão por trás da economia energética e excelência na distribuição de material nos recipientes gerados”. Pelos lados das injetoras da Romi, nota Reis, a recessão não impediu o registro este ano de relativo aumento nas vendas das linhas elétricas EL 300 speed para embalagens e utilidades domésticas obtidas em ciclo rápido. Na garupa das velocidades, precisão, simultaneidade de movimentos e baixo consumo de eletricidade, os pedidos de injetoras EN de 600 a 1.100 toneladas também têm subido, completa o executivo. Aliás, nota, a combinação sulfúrica da recessão e dólar esfriou a importação de injetoras, em especial de maior valor agregado, e a Romi tem ocupado esse vácuo. Mas nem tudo são flores. “O câmbio pesa em parte dos nossos custos, pois as máquinas dependem de componentes importados como itens eletrônicos, servo-motores e guias lineares, todos sem fornecedores nacionais com as especificações que requeremos”.

A situação não destoa se transposta para a alçada das extrusoras blown, prato forte da brasileira Carnevalli. “Empregamos muitos insumos importados cujos preços acompanharam a subida do dólar e aumentaram nossos custos de produção”, expõe o diretor comercial Wilson Carnevalli Filho. “Ainda não está claro se repassaremos integralmente esses custos e, para uma posição, esperamos por uma conjuntura política e econômica mais estável”. À parte o intento de engrossar exportações na boleia do real desvalorizado, ele revela que, para o mercado interno, seu principal argumento de vendas extrapola a atual fase de crista caída entre os clientes. “Eles precisam substituir as extrusoras antigas, pois o custo da energia e mão de obra subiu muito nos últimos anos”, raciocina o fabricante. “Além do mais, a concorrência endurecida leva compradores de embalagens a buscar mais qualidade e produtividade em seus fornecedores, tornando obrigatórios os investimentos para manter os transformadores de flexíveis competitivos e rentáveis”. Esse suadouro, deixa claro Wilson, tem deixado menos expostas à crise suas linhas de médio porte, “em especial a versátil extrusora Polaris Plus de 65 mm de diâmetro de rosca”, distingue. “Ela sobressai pelo baixo custo operacional e pela produção máxima de 240 kg/h”. Em paralelo, Wilson por enquanto não flagra avarias de monta na carteira de coextrusoras de maior porte, “para laminados e filmes técnicos de empacotamento automático”, aponta.

Também procurados por Plásticos em Revista, Minematsu, Amut-Wortex e NZ Philpolymer não quiseram falar.

sem-essa

 

Sem essa de devagar e sempre

O mercado sempre é de quem chega primeiro à tecnologia top de linha

“Este momento político e econômico afeta o consumo e, por extensão, a demanda por manufatura”, encadeia Evandro Cazzaro, gerente geral para a área de sistemas de injeção para Beverage Packaging na América Latina da canadense Husky. “Além do mais, situações de instabilidade cambial têm o condão de postergar investimentos e nós não estamos imunes a isso”. Conform detalha, 2015 tem marcado por clientes de suas injetoras em geral de pé atrás, “mas investimentos previstos no passado para adição de capacidade pontual, em especial de pré-formas, têm se realizado”, pondera o executivo. Apesar da sinistrose, ele encaixa, a Husky continua a trabalhar com o mercado em prol da entrada de PET em redutos tradicionais de outros tipos de embalagens, caso de bebidas sensíveis como lácteos e sucos, ilustra Cazzaro. “Seriam alternativas para compensar uma potencial redução da procura por injetoras em refrigerantes e água mineral, segmentos tradicionais de PET”.

No Brasil, sobra solidez na base operacional da Husky, atuante inclusive como fabricante de sistemas de câmara quente no país. Está à parte, portanto, de uma figura corriqueira na praça, o agente de marcas internacionais com escritório comercial e algum estoque de peças sobressalentes, uma atividade limitada em anticorpos para encarar o risco de sobrevida sob dólar alto e irriquieto. Cazzaro lastima a hipótese de esse efetivo de representantes encolher. “Seria um fato negativo para o setor transformador, que já sofre com as limitações impostas pela política protecionista da indústria nacional de bens de capital, exemplificada pela sobretaxação indevida de equipamentos sem similares locais”, considera o porta-voz da Husky. “A defasagem é inevitável onde quer que se imponha barreiras ao mercado internacional, fora ser a principal causa da dificuldade de competir notada em nossos transfomadores. O problema já ocorre com as práticas protecionistas e se agrava com o câmbio instável”. De outro ângulo, amarra Cazzaro, se o momento é nefasto para os agentes comerciais, serve para mostrar aos transformadores a conveniência de escalar como parceiros de fé em máquinas quem tenha capacidade e resistência para operar e enxergar o mercado a longo prazo.

“No momento, quem sofre mais são os fornecedores de máquinas com tecnologia básica, pois elas não vão aumentar a competitividade do transformador; servem apenas para renovar seu parque fabril e isso não é prioritário agora”, julga Kai Wender, diretor da base de vendas no Brasil da Arburg, centroavante alemão em injetoras. Em contrapartida, ele afirma presenciar empresas que, mesmo na atual maré baixa, “sabem aproveitar a chance para se fortalecer”. Não desviam o foco da produtividade, eficiência energética e automação do processo, três argumentos de venda da Arburg. “Apesar da redução no nosso volume de vendas em 2014 e 2015 frente à média dos últimos 10 anos, vemos uma tendência favorável a modelos de ponta e maior valor agregado”. Wender exemplifica com a subida das injetoras híbridas e elétricas em suas vendas aqui este ano, acima dos patamares alcançados em períodos anteriores e abocanhando cerca de 30% do movimento total no exercício em curso. “A venda desses modelos praticamente dobrou sua participação em nossas vendas”. •

 

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