Composto indigesto

Em seu primeiro discurso como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro emitiu os chamados ruídos apropriados. Prometeu empenhar-se em prol da competitividade, desburocratização, ambiente regulatório e tributário, redução de custos e aumento da produtividade e exportações da indústria brasileira.
Monteiro, em suma, fez o pronunciamento tornado clássico por seus antecessores no posto. Mas se sua intenção for mesmo passar do microfone aos atos, ele terá, logo de cara, de romper com diversas posições envergadas no cargo anterior de presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em seus oito anos de comando da entidade, Monteiro não imprecou contra uma política econômica adepta de seletivos benefícios fiscais setoriais. Também não se colocou de público contra as medidas que tornaram o Brasil referência de protecionismo na Organização Mundial do Comércio nem reclamou do uso do câmbio para conter a inflação, das pedaladas na contabilidade da dívida pública e demais barbeiragens na condução da economia cujo saldo são a estagnação do país e a confiança do empresariado hoje abaixo do pré-sal e do Botafogo.
A situação de Monteiro não difere muito da dos ocupantes anteriores de sua pasta no primeiro mandato de Dilma. Na prática, seu ministério fica abaixo do andar onde mora quem agora se diz ter poder de mando, os ministros Joaquim Levy, da Fazenda, Nelson Barbosa, do Planejamento, e o presidente do BC, Alexandre Tombini. Mas mesmo dentro de suas limitações, Monteiro tem como marcar presença e território pondo a boca no trombone, o primeiro passo para se tentar de fato que alguma coisa aconteça na vida pública.
O novo ministro promete, por exemplo, trabalhar pelo comércio exterior de produtos industrializados. Pois um bom começo nesse rumo seria Monteiro defender alto e bom som o estabelecimento de acordos comerciais fora desse casulo aos farrapos chamado Mercosul e a redução gradativa (para a indústria nacional ter tempo para adequar-se) das alíquotas brasileiras de importação. Isso soa a heresia nos corredores da CNI mas, como prova todo santo dia a realidade globalizada, é o modo mais lógico de a indústria nacional sair da redoma e fortalecer a competitividade tendo as mesmas condições de acesso aos insumos, peças e equipamentos desfrutados pela concorrência internacional e assim disputar com ela, aqui e lá fora, em maior pé de igualdade. As empresas que não conseguirem sobreviver em ambiente de abertura, já dizia Mário Henrique Simonsen, vate da economia e ex-ministro, já estavam fadadas a virar sucata e, portanto, não farão falta.
Em seu pronunciamento inicial, divulgado na mídia, Monteiro prometeu também lutar por mais recursos do bancos públicos para a renovação do parque industrial. Pois é outra oportunidade de mão cheia para ele mandar ver da tribuna defendendo a retirada de outros entraves não contestados pela CNI, o conceito da similaridade local para dificultar importações e a política de conteúdo local praticada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar bens de capital como máquinas para a transformação de plástico. No mundo de hoje, virou praxe a montagem de equipamentos suprida por componentes adquiridos não importa onde por critérios de qualidade e preço, um cenário imposto pela velocidade do processo tecnológico e o consequente barateamento de peças e equipamentos. Ao pressionar a indústria brasileira a nacionalizar ao extremo suas máquinas, o governo contribui para minar a competitividade delas num efeito bumerangue, encarecendo-as e dificultando-lhes a incorporação dos avanços integrantes nos competidores internacionais.
Em Brasília, ainda se tira passaporte para chegar à vida real. •

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