Círculo virtuoso

Sinctronics garante vida nova a materiais de eletroeletrônicos
Mileide Cubo: preconceito sem cabimento contra o reciclado.
Mileide Cubo: preconceito sem cabimento contra o reciclado.

Sucata eletrônica não tem o grau de visibilidade das embalagens jogadas ao léu. Mas seu descarte embute o mesmo risco de danos ambientais, pela liberação de contaminantes no ecossistema, uma ameaça amplificada no Brasil, onde o fim dos lixões determinado para 2014 pela Política Nacional de Resíduos Sólidos foi protelado pelo Senado para o período 2018-2021, sob a contestada alegação de zero verba para aterros sanitários municipais. Em meio à tanta pindaíba e enrolação, ganham vulto os predicados do Sinctronics, unidade de negócios da subsidiária da norte-americana Flextronics. Constituído em 2012, o Sinctronics integra os elos da logística reversa, processamento de materiais, e P&D. Na sede em Sorocaba, interior paulista, o Sinctronics desmonta o chamado hardware – caso de impressoras, celulares, cartuchos de tintas, servidores, desktops e notebooks. A seguir, separa os resíduos e recupera os materiais. Na retaguarda, possui um laboratório para controle de qualidade do reciclado e desenvolvimento de resinas a partir do refugo e aplicações do plástico de segundo uso, a exemplo de alças para caixas de impressoras. A infra de logística reversa do Sinctronics gerencia uma rede da ordem de 400 postos de coleta e dá conta de mais de 1.000 pedidos mensais de recolhimento de equipamentos sucateados. Sua fábrica de reciclagem, por sua vez, é capaz de reprocessar 300 t/mês de eletroeletrônicos.Nesta entrevista, a gerente de operações Mileide Cubo disseca o compromisso do Sinctronics e pedras no caminho como o despreparo da mão de obra e a aversão no ramo eletroeletrônico ao uso de reciclado na manufatura dos equipamentos.

PR – Quais as maiores lacunas de informação sobre componentes plásticos de lixo eletrônico mostradas pelas equipes das recicladoras?
Mileide Cubo – A principal dificuldade para reciclar plásticos contidos em eletroeletrônicos é identificar cada tipo de material. Embora existam peças já gravadas com a informação da resina, precisamos efetuar uma rigorosa triagem para avaliar a possibilidade de recuperação da matéria-prima. Tudo o que nos chega é pesado, desmontado e separado por tipo de material.É nessa fase que checamos o nível de reaproveitamento. Outra lacuna nos conhecimentos refere-se aos materiais “impregnados”, ou seja, equipamentos fabricados com materiais diferentes, uma diversidade que dificulta a separação dos tipos de plásticos e metais. Utilizamos muito os recursos da tecnologia para esta triagem: desde formulários online, para receber solicitações de coleta para logística reversa, até o leitor de identificação por radiofrequência (RFID), para monitorar e discriminar produtos que saem do mercado e entram no Sinctronics.

PR – Quais os efeitos dessa desinformação para o processo de reciclagem e o padrão e performance do reciclado produzido?
Mileide Cubo – A principal consequência é o risco de se misturar resinas diferentes no reprocesso, resultando em peças mais frágeis ou mesmo na impossibilidade de reprocessamento devido à incompatibilidade de materiais, gerando grande desperdício de recursos.

PR – Como avalia o nível de escolaridade e qualificação de quem lida com o plástico da sucata eletrônica nas recicladoras?
Mileide Cubo – A qualificação das pessoas ainda é muito escassa em relação ao conhecimento de materiais plásticos. Como a demanda de trabalho tem sido grande, há um maior investimento na capacitação de pessoal para atuar no processo e o Sinctronics, responsável por todo o processamento, está investindo nessa qualificação.Trata-se de uma atividade dependente de conhecimento específico e cuidados com os materiais que demandam treinamento.

PR – Diante do despreparo desse pessoal, o que sugere ao setor plástico para contribuir para melhorar os conhecimentos?
Mileide Cubo – O aumento dos conhecimentos difundidos e do esforço em divulgá-los são medidas de extrema urgência. Além de colaboradores treinados e em constante aprimoramento, o consumidor preciso mudar seu comportamento e valorizar o correto descarte de materiais plásticos. Dessa forma, poderemos gerar mais empregos qualificados em toda a cadeia produtiva. No Sinctronics, por exemplo, o reciclado é encaminhado a novas peças de eletrônicos e para diversas aplicações, inclusos produtos já associados ao plástico de segundo uso, como bancos e pallets para a indústria.

PR – A médio prazo e com a velocidade com que a Tecnologia de Informação evolui, as funções básicas exercidas pelo pessoal da reciclagem tendem a passar para soluções de automação?
Mileide Cubo – Já é possível vislumbrar um avanço a médio prazo na tecnologia de reciclagem e automatização do processo industrial. O que será bom por evitar condições de trabalho precárias ou de risco à saúde. Um sinal dessa tendência é a tecnologia de triagem do resíduo por tipo de material; uma realidade na Europa e em ascensão por aqui. O Sinctronics, aliás, dispõe de máquina para separar materiais por tipos, a partir do peso e da composição. Apenas em 2015, processamos mais de 1.000 toneladas de refugos. Para tanto, gerenciamos a reciclagem de 2.500 toneladas de materiais diversos e conseguimos colocar 270 toneladas de plásticos para reuso em novas peças.

PR – Seria uma variante do conceito da economia circular?
Mileide Cubo – Temos um problema – aliás global – de geração de resíduos industriais no pós-consumo. A melhor solução é evitar que este tipo de resíduo vá parar em aterro, por ser altamente prejudicial ao meio ambiente por conta dos seus componentes tóxicos. No Brasil, o Sinctronics é um dos únicos centros de inovação dedicados a combater esse risco. Hoje em dia, ele recicla quase todo o resíduo eletroeletrônico que chega na fábrica, um percentual de sucata que não volta à cadeia produtiva, pois é co-processado e transformado em combustível. Portanto, trata-se mesmo de um modelo bem sucedido de economia circular.

Ou seja, ele fecha no Sinctronics o ciclo produtivo de recuperação do plástico oriundo de eletroeletrônicos e vira matéria-prima de componentes para novos equipamentos desse setor, além de gerar emprego e cortar a hipótese de contaminação ambiental pelo seu descarte em lixões.

PR – Como avalia o uso hoje, em eletroeletrônicos nacionais, de plástico recuperado em peças injetadas? Os fabricantes desses equipamentos aceitam bem os componentes de reciclado ?
Mileide Cubo – Culturalmente, ainda há uma rejeição a materiais recuperados por parte de fabricantes e usuários de eletroeletrônicos. Mas isso foi tornado injustificável pela possibilidade de se fabricar componentes com reciclado de padrão adequado, oferecido por empresas como o Sinctronics. Este procedimento deve ser valorizado e tende a crescer, à medida em que essa qualidade seja certificada. •

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