Em um país sem saúde pública digna desse nome, o consumo de termoplásticos em artigos médico-hospitalares prima por tal insignificância que não há na praça quem meça a estatura desse mercado. Mas ele deve ter algum charme pois, não fosse assim, a francesa Saint Gobain não se daria ao trabalho de comprar a brasileira SG Plásticos apenas pelo fato de cobrir no exterior o setor de tubos de uso biofarmacêutico/laboratorial e para fluidos de processos industriais, segmento também atendido pela pequena transformadora de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo.
Sem abrir o montante da transação formalizada na primeira quinzena de janeiro nem opinar se o ativo adquirido saiu barato em moeda forte, Thierry Fournier, presidente da Saint Gobain para o Brasil, Argentina e Chile não vê inibidores nesse tipo de investimento sob a pior recessão já enfrentada pela economia brasileira. “Apesar do atual cenário, o Brasil é um país de oportunidades e há 78 anos acreditamos no seu potencial e nele investimos continuamente, mediante a abertura de unidades, fusões e aquisições de empresas”. Fournier se apega ao horizonte nacional a médio e longo prazo e justifica com política de confiabilidade a decisão de não revelar os nomes dos ex controladores da SG. Fontes informam tratarem-se de Edson Navarro Torres e Elenice De Carli. O casal fundou a SG em 1980 e Fournier não se pronuncia sobre a capacidade instalada e o grau de atualização do parque de extrusão de tubos e mangueiras espiraladas na ativa em São Caetano do Sul, local onde a unidade deve permanecer.
Em suas investidas pela seara dos plásticos no Brasil, a Saint Gobain demonstra preferência por incorporar negócios em funcionamento em lugar de erguer plantas da estaca zero. Fournier encaixa como referência a compra em 2013 da Flex Polímeros, fabricante de fitas dupla face com adesivo acrílico fincada em Sumaré, interior paulista.
A Saint Gobain identifica sua vocação no chamado mercado de habitat, mediante fornecimento de soluções para os setores industriais e da construção civil. Esta premissa, deixa claro Fournier, justifica a junção no mesmo bojo de negócios da envergadura das marcas Brasilit e Telha Norte com a pequenez de um ativo como a SG Plásticos. No caso, o liame também é reforçado pela operação global denominada Plásticos de Performance, lastreada em produtos transformados de materiais de engenharia. Fournier cinde esta atividade em três frentes: Fluid Systems, referente à condução de fluidos, Engineered Componentes, com foco em vedações e mancais autolubrificantes, e a área cognominada Composites, de tecidos recobertos com politetrafluoretileno, filmes especiais e fitas e espumas para fixação e vedação. Com suas principais plantas nos EUA, a atividade Fluid Systems, na qual a SG se aloja, comporta dois braços: Process Systems, de soluções de transporte de fluidos em processos industriais, e Life Science, produtos plásticos para o mercado médico-hospitalar. “Ela responde por mais da metade do faturamento mundial da atividade Fluid Systems”, acentua Fournier.
Na França, a Saint Gobain produz tubos especiais para uso industrial, clínico, laboratorial e biofarmacêutico, extrusados com matérias-primas que vão de PVC a silicone e borracha termoplástica, um mostruário abrigado nas séries Tygon, C-Flex e Sani Tech. A fábrica comprada da SG trabalha com alguns desses insumos e com polímeros fora do catálogo da corporação francesa Gobain para tubos e mangueiras, caso de policarbonato, poliuretano e poliamidas, além de servir terceiros com os sistemas de poliuretano Urethane. Fournier encara essa diversidade como salutar para o negócio. “Por meio da atividade de Plásticos de Performance, possuímos ampla gama de materiais poliméricos e a capacidade de conceber formulações sob demanda dos clientes”, expõe. “O portfólio da SG é totalmente aderente às soluções oferecidas pela Saint Gobain Plásticos de Performance”. Essa sinergia emana bons fluidos. •