Andamos para trás

Reifenhäuser: Brasil defasado perante a América Latina.
Reifenhäuser: Brasil defasado perante a América Latina.
Reifenhäuser: Brasil defasado perante a América Latina.

Um produto fabricado por um trabalhador nos EUA requer quatro se manufaturado no Brasil. É a maior diferença atingida nesse comparativo de produtividade desde os anos 50, atesta levantamento coassinado pelo Conference Board e FGV. À parte os tumores velhos de guerra do Custo Brasil, a distância também tem a ver com a freada nas compras de equipamentos, em especial nos últimos tempos. “A qualificação da mão de obra não é suficiente se a empresa não investe em máquinas modernas”, declarou a respeito desse atraso brasileiro Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Em português castiço, o nome desse recuo é desindustrialização, processo sentido na carne pela transformação brasileira de plástico. A notícia da idade avançada do seu parque fabril já virou clichê. “Nos últimos 10 anos, transformadores das Américas Central e do Sul têm investido bastante em máquinas europeias, em especial alemãs, caso de extrusoras para embalagens flexíveis, agrofilmes e aplicações de barreira. Infelizmente, o Brasil, o mais importante mercado latino-americano, hoje está atrás desse estado da arte notado em países fronteiriços. São poucos os clientes no Brasil investindo em tecnologia internacional.

As perguntas, no caso, são as seguintes: a indústria do Brasil também será competitiva fora do seu mercado interno? Está interessada em ser competitiva ou lhe basta o mercado doméstico ? O que aconteceria se barreiras à importação brasileira de máquinas deixarem de existir?” Essas incógnitas são levantadas por um formador de opinião no plástico mundial: Ulrich Reifenhäuser, chairman do setor de máquinas para plástico e borracha da VDMA, associação alemã da indústria de máquinas, a mais poderosa do mundo. No arremate, ele integra a cúpula da Reifenhäuser, cânone mundial das extrusoras, e preside o conselho de expositores da feira alemã K’ 2016.

A Organização Mundial do Comércio lista o Brasil entre os países de maior grau de protecionismo. Reifenhäuser considera o mercado brasileiro aberto, mas poderia turbinar seu conhecimento tecnológico e o aproveitamento sustentável de resinas na transformação (redução de aparas e gasto de energia, p.ex) se retirasse as barreiras aos equipamentos importados. “Competição significa, principalmente, performance melhor e, num ambiente de concorrência, os fabricantes brasileiros de máquinas para plástico seriam forçados a produzir equipamentos competitivos”, pondera o dirigente. “O Brasil tem a oportunidade de obrigar sua indústria de máquinas para plásticos a ser um global player e não apenas um fornecedor de alcance local ou regional; por isso a competição é necessária”.

Reifenhäuser fala em nome de todos os tipos de maquinário alemão para plástico, mas evidencia sentir-se mais à vontade ao recorrer às extrusoras como referência, dado o elo de sua empresa com elas. “Extrusoras alemãs têm sido entregues a quase todos os países latino-americanos e o único com altas tarifas de importação (14% para produtos com similares locais) é o Brasil”, constata. “Fica claro, portanto, que algo foi entendido pela América Latina, exceto pelo Brasil. Em decorrência, o restante dos países latino-americanos têm conseguido para a importação ultramar de embalagens flexíveis, em razão da competitiva tecnologia de produção que hoje dispõem”.

A VDMA traduz em números a trajetória da busca de atualização por transformadores do Brasil. Em 2005, as exportações para cá de máquinario alemão para plástico e borracha somaram 77 milhões de euros, montante elevado a 107 milhões de euros em 2015. “Não é possível confrontar as duas cifras sem considerar o desenvolvimento do mercado no transcorrer desses 10 últimos anos”, ressalta Reifenhäuser. Conforme explica, as remessas ao Brasil subiram com força após 2005, em especial de 2011 a 2013, quando bateram no pico de 163 milhões de euros. “Em 2014, as exportações caíram de forma dramática a 79 milhões de euros, reagindo para 107 milhões no ano seguinte”, ele expõe. “Lamentavelmente, esse movimento positivo estancou no primeiro quadrimestre de 2016, quando os resultados das vendas ao Brasil recuaram 64% perante o saldo das exportações de janeiro a abril de 2015”. A recessão, óbvio, assina grande parte da queda.

Apesar dos pesares, Reifenhäuser mantém um voto de confiança. “Como a indústria brasileira se esforça para tornar-se globalmente competitiva no setor automotivo e outros campos de aplicação de plásticos, são boas no país as perspectivas para equipamentos alemães de alto nível a médio e longo prazo”. Otimismo é sempre bem-vindo. •

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