Água muito viva

Duas sacadas com PE na garupa da infraestrutura capenga
Tamy Cenamo: PE rotomoldado para captar água.

A crise hídrica em campo desde o ano passado no Sudeste tem continuidade garantida em 2016 e o cronograma das obras para debelar o problema em São Paulo, de término estipulado para 2017, já foi formalmetne reconhecido como furado. Nas pegadas do preceito de que a necessidade é a mãe da invenção, pelo menos duas empresas, Waterbox e Lakefarm, afloram com patenteadas sacadas para reúso de água nas quais o plástico é a alma do negócio.

O ponto de partida da Waterbox, conta sua diretora comercial Tamy Cenamo, foi a concepção de uma mini cisterna de múltiplos usos, apta a armazenar água limpa, de reúso ou da chuva. “Assim era fundamental que fosse um produto de qualidade garantida com especificações bem definidas dos plásticos virgens, pois materiais reciclados poderiam conter contaminantes”, observa Tamy. Segundo assinala, diversos usuários têm adquirido os tanques Waterbox para estocar água limpa para cozinhar. “Essas pessoas chegam à noite em casa e são surpreendidas pela falta de água na torneira”.

Tamy e sua equipe começaram o projeto em janeiro último tendo em mente o chamariz do design e o conceito multifuncional. “Estamos vivendo rigorosa crise hídrica impondo uma série de restrições ao armazenamento de água e isso nos abriu os olhos para a falta de boas soluções inteligentes, práticas e bonitas para estocar”. Dos brainstroms saiu a ideia dos tanques rotomoldados verticais, tipo slim, talhados em especial para áreas onde o abastecimento tem perdido regularidade. Tamy retoma o fio especificando  como matéria-prima polietileno de média densidade linear base hexeno aditivado com agente anti UV. As cores selecionadas, distingue, são isentas de metais pesados, permitindo o uso na captação de água limpa e mesmo o contato com alimentos. As quatro opções da palheta (bege, vermelho, laranja e verde) são opacas. “Para inibir a passagem de luz, minimizando a formação de algas no interior das cisternas”, justifica a diretora.

Adequados para uso interno e externo, os tanques Waterbox podem ser utilizados em ambientes interiores para estocar água potável (como uma caixa d’água comum) ou para armazenar água de reúso (da máquina de lavar, por exemplo). Em ambientes externos, pode ser uma ferramenta para captação de águas pluviais. Numa fase posterior, adianta Tamy, a Waterbox estuda ampliar a linha de modelos e produzir um tanque específico para captar e armazenar  chuva. “Nesse caso, a opção por um material reciclado é coerente, adequada e sustentável”, argumenta. Cada cisterna possui 1,77 m de altura, 0,55 m de largura e 0,12 m de profundidade, comportando até 100 litros de água. Com design modular, os tanques Waterbox permitem conexão entre as unidades, dependendo da necessidade e disponibilidade de espaço.

“Não consultamos empresas de plástico mpara pensar no produto; focamos no que percebemos para melhorar a gestão da água e seu uso consciente, estimulando novos comportamentos”, afirma Tamy. “Criado o projeto, recebemos apoio e dicas em termos de moldes, materiais, cores e componentes complementares”. Responsável pelo conceito da peça e projeto de design, a Waterbox optou por terceirizar a produção com não revelada transformadora na ativa em Indaiatuba (SP). Os moldes, patentes e desenhos industriais registrados, explica Tamy, são de propriedade da Waterbox e os tanques são produzidos com exclusividade para ela. Nessa fase inicial, encaixa a diretora, era importante participar do processo produtivo e poder integrar as empresas foi um fator decisivo para a parceria. “Em nosso modelo de negócios nada impede que, no futuro, firmemos acordos com fabricantes em outros Estados para diminuir os gastos com logística que, num produto como o nosso, são impactantes”, acena a diretora comercial.

A Waterbox depositou patente nacional para sua minicisterna, esclarece Tamy, e tem prazo de um ano para depositar os PCTs (tratado multilateral que permite requerer a proteção patentária de uma invenção, simultaneamente, num grande número de países, por intermédio do depósito de um único pedido internacional de patente). Além disso, a empresa providenciou registro da marca, do desenho industrial e de possíveis variações na forma. “Acreditamos em nosso conceito e potencial. É importante que todas as formas de assegurar direito de propriedade sejam mantidas”, assinala Tamy.

Flavia Jensen: em busca de distribuidores para ampliar as vendas.
Flavia Jensen: em busca de distribuidores para ampliar as vendas.

A produção dos tanques Waterbox teve início em junho último e as primeiras vendas, a partir de julho. Em 3,5 meses de atuação, a empresa abriu 40 revendas em 15 cidades. “Estamos negociando a entrada em algumas redes varejistas e firmando parcerias com representantes em outros estados”, informa a diretora. Entre os chamarizes para a divulgação dos tanques , ela frisa propriedades como as contaminações zeradas. “A água fica estocada em reservatório fechado, longe de poeira, mosquitos, vermes e ratos”, ela conclui.

Pensando em soluções práticas para enfrentar a crise hídrica, a Lakefarm bolou o Aguawell, um coletor plástico compacto para reaproveitamento da água do chuveiro durante o banho. Com capacidade para seis litros, ele permite que a água limpa coletada possa ser reutilizada na descarga do vaso sanitário, na lavagem de louças e pisos ou mesmo para regar plantas, orienta Flavia Arantes Jensen, diretora executiva da empresa dedicada à criação, desenvolvimento e vendas de utilidades domésticas. Segundo ela, a ideia brotou no início de 2015 através de um coletor de água utilizado na Colômbia. “Com o modelo totalmente modificado e patenteado, lançamos em junho passado o produto via financiamento coletivo (crowdfunding), através da plataforma on line Kickante”, conta ela.

O produto, detalha a executiva, tem três partes: um container soprado com polietileno de alta densidade (PEAD), uma tampa de rosca injetada e uma segunda tampa antidengue, também moldada por injeção. Mesmo que a água coletada não seja para consumo e a Lakefarm seja isenta de responsabilidade jurídica, na eventualidade de ingestão dessa água, Flavia entende que a empresa tem dever moral de reduzir o risco no caso de uso indevido. “Por isso escolhemos o plástico virgem para o Aguawell”, sustenta.

Após acertar a finalidade do coletor, sua forma e preço, a Lakefarm  encomendou a ferramenta para moldagem da peça e deu inicio à produção. O fabricante parceiro selecionado para o Aguawell opera embalagens para diversas aplicações e, por conta disso, a direção da empresa considerou desaconselhável misturar resina virgem com reciclada, evitando assim a contaminação das máquinas. “Não precisamos da ajuda de terceiros nesse desenvolvimentos,pois nossa empresa está familiarizada com a concepção de artefatos de plástico (veja box)”, observa Flávia. O Aguawell, ela sustenta, economiza uma quantidade significativa de água por ano. “Mas continuamos a investigar a necessidade do mercado em outros produtos para poupar água”.

Verdadeira barbada

Segundo maior consumidor de lâminas de barbear do mundo, o Brasil mobiliza mais de 1 bilhão de unidades por ano, constata a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Além de onerosa para os usuários, essa demanda acumula lixo não degradável. A ideia de interferir na cadeia, estendendo a vida útil de barbeadores convencionais, levou a Lakefarm a criar e patentear o Blade Hugger, suporte e limpador à base de elastômero termoplástico (TPE), que prolonga a vida do barbeador em até cinco vezes, garante Flavia Arantes Jensen, diretora executiva da empresa especializada em utilidades domésticas. Segundo ela, um barbeador masculino dura em média de duas a quatro semanas. “Blade Hugger propicia uma economia fantástica. Por exemplo, se um barbeador custa R$ 10 e dura quatro semanas, em um ano a economia totalizará R$ 104”, orça a executiva.
Segundo Flávia, lâminas de barbear não perdem o fio facilmente. Elas apenas ficam sujas. Blade Hugger remove o material orgânico que se acumula na extremidade das lâminas e, dessa forma, prolonga a vida do barbeador, explica. “Funciona como nos velhos tempos, quando se afiava navalhas em tiras de couro”, ela compara. Além de promover a limpeza do barbeador, o Blade Hugger serve também para pendurar o aparelho, podendo ser fixado na parede do banheiro ou box ou ainda apenas usado solto na bancada da pia.
Da mesma forma que o coletor Aguawell (ver à pág. 40), o Blade Hugger é uma criação da Lakefarm, com projeto viabilizado pela plataforma Kickante de financiamento coletivo (crowdfunding). O parceiro para a produção da peça é a tranformadora Valplas e, conforme Flavia, o TPE foi escolhido pela facilidade de se injetar. “É uma combinação de alta durabilidade, com resistência de fricção suficiente e podemos ajustar a dureza como desejarmos”, observa ela. O nome “blade hugger”, ela admite, é inteligível ao grande público daqui. “mas brasileiro adora nome estrangeiro e chamar o produto de ‘abraçador de lâmina’ não soa muito sexy”, ela argumenta. “Além do mais, queremos exportar!”

Como o componente principal do Aguawell é o container, a diretora informa que a Lakefarm buscou parceiro em sopro. Depois de avaliar de quatro a cinco empresas, a Newsul Embalagens e Componentes foi a escolhida para a conversão da peça. “Foi a que mais nos agradou pelo profissionalismo, sistema de qualidade, flexibilidade, diferentes localizações de fabricação, com altos padrões que pudessem também nos atender em demandas e exigências para exportação”, observa Flávia. A Newsul, por sua vez, conta com equipe de desenvolvimento que demonstrou uma “boa química”, diz Flávia, com o time da Lakefarm, passo essencial para o processo de amadurecimento da produção em alta escala, relata a dirigente, completando que a parceria incluiu um ferramenteiro apto a atender o projeto na confecção dos moldes de sopro e injeção. Também a escolha da Dow Brasil como fornecedora da resina foi fundamental, dado o interesse demonstrado por produtos sustentáveis”, comenta Flávia.

Com relação à patente, a diretora informa que o modelo de utilidade nacional será deferido em breve. A Lakefarm cogita ampliar a comercialização do Aguawell a outros países mas, nesse caso, a empresa depende de pesquisa de patentes para não violar as já existentes.  “Para a Lakefarm, a patente não é essencial, mas pode ser uma barreira para outras empresas nos copiarem. O importante é fazermos um produto com custo competitivo e prestar serviço de alto nível para o cliente”, sublinha Flavia. Até o fechamento desta edição, Aguawell estava disponível para compra apenas pelo site da Lakefarm, mas a empresa negocia com distribuidores em potencial para expandir a partir de dezembro a venda do produto a outros canais. •

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