A volta por cima

Novo estudo da agência FDA inocenta bisfenol A de danos à saúde
bisfenol A

Por mais estrambótica que seja, denúncia sai na capa e seu desmentido na página 33. Esta lei não escrita do jornalismo remonta à era pré-internet e, na alçada da informação de cunho científico, já enlameou reputações que vão dos adoçantes artificiais a PVC e a carne vermelha, no afã de noticiar suspeitas de danos à saúde não fundamentadas e cuja revogação posterior ou não é publicada ou não merece registro além de uma nota ao pé de uma página interna. Mas mentira tem perna curta e tem sempre o dia em que casa cai, demonstra estudo saído, após anos de maturação em silêncio, do forno da referencial agência regulatória norte-americana Food and Drugs Administration (FDA). A pesquisa isenta bisfenol A (BPA), integrante da composição de policarbonato (PC), de prejuízos causados à saúde humana, sem contraindicações, portanto, para o uso do polímero em embalagens de alimentos.

O relatório da FDA terá versão final em 2019, mas o conteúdo já liberado pela agência formadora de opinião mundial no seu ramo apanha no contrapé arautos da saúde pública brasileira. Em 2012, levada por análises agora demolidas pela FDA e sem notícia de uma vítima sequer por ingestão de BPA, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) baixou em 2012 resolução vetando PC em mamadeiras.

A imprensa não perdeu a deixa. Em outubro de 2011, por exemplo, a revista Veja já trombeteava: “Como manter o BPA longe do seu filho”. Facções da classe médica também não deixaram barato. A filial paulista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP) clamava em seu site “diga não ao BPA, a vida não tem plano B” e exibia símbolo de advertência com o slogan “Bisfenol – você come sem saber e adoece sem querer”. No embalo, polímeros concorrentes de PC em embalagens de alimentos, caso de copoliésteres, buzinavam em sua publicidade, como máxima das máximas qualidades, que BPA não figurava em seu DNA.

Em comunicado, a FDA frisa que o relatório preliminar endossa sua firmada posição de que os usos autorizados de BPA continuam seguros para os consumidores. “Os resultados indicam que BPA tem muito pouco potencial para causar efeitos na saúde, mesmo quando as pessoas estão expostas a ele ao longo de suas vidas”, assevera Steven Hentges, diretor sênior do Polycarbonate/BPA Global Group. Denominado Clarity-BPA ou Clarity Core, o estudo consumiu verba milionária e é considerado o mais profundo no gênero já realizado por avalistas como a entidade American Chemistry Council. Stephen Ostroff, vice-comissário da FDA para alimentos e medicina veterinária, declarou que a pesquisa focalizou roedores submetidos a baixas dosagens de BPA, simulando a típica exposição humana. “No geral, o estudo encontrou efeitos mínimos para os grupos de roedores inoculados”, acentuou o porta-voz.

A conclusão da FDA é música aos ouvidos dos produtores de PC, açoitados desde a primeira década do milênio por precipitadas proibições de agências regulatórias à presença do termoplástico em contato com alimentos, em particular na produção de mamadeiras, um veto que aboletou essa embalagem no colo de materiais como polipropileno random. O júbilo com a redenção de BPA e PC pela nata da comunidade científica emana da entrevista a seguir de Roberto Noronha Santos, presidente da operação sul-americana da Sabic Innovative Plastics, bússola global nesse termoplástico com sua marca Lexan. A alemã Covestro, outro vip em PC, não deu entrevista.

Roberto-Noronha-Santos
Noronha: parecer da FDA tende a catequisar agências regulatórias internacionais.

PR – Como a Sabic recebe as conclusões do novo estudo da FDA isentando BPA de danos à saúde humana e como explica a afobada adesão de diversos países a pesquisas contra o material sem a necessária fundamentação científica?
Noronha – A Sabic sempre acreditou na segurança de BPA. Os resultados preliminares do estudo da agência FDA chamado Clarity Core, o mais amplo já realizado sobre o monômero, corroboraram nossa crença. Ao longo dos anos, estudos científicos exploratórios apareceram no domínio público causando muitas incertezas sobre a segurança de BPA. Por este motivo é muito importante que agências governamentais como a FDA conduzam pesquisas independentes para esclarecer as incertezas sobre o material valendo-se de protocolos científicos válidos e robustos. Com a FDA declarando publicamente que BPA é seguro, conforme a contínua avaliação das evidências científicas pela agência norte-americana e com base nos resultados iniciais do estudo Clarity Core, a Sabic exorta os muitos reguladores globais a reavaliarem e revisarem suas determinações prévias sobre a segurança do BPA.

PR – Acha que este novo estudo da FDA poderá levar agências de outros países a reverem suas pesquisas e suspenderem suas decisões de proibir BPA/PC em embalagens de alimentos como mamadeiras?
Noronha – As autoridades regulatórias de diversos governos indicaram que aguardavam esta pesquisa proveniente da agência FDAs para rever e atualizar suas conclusões sobre a segurança de BPA para uso em embalagens alimentícias. A Sabic apoia as conclusões da FDA e encoraja as agências regulatórias ao redor do mundo a reconsiderar suas determinações prévias relativas a BPA.

PR – Quais as principais ações que a Sabic vai empreender para, a partir desse novo estudo da FDA, revigorar a imagem de PC em embalagens de alimentos das quais o polímero foi banido em vários países, por conter BPA?
Noronha – A Sabic planeja realçar as conclusões do estudo Clarity nas discussões com reguladores internacionais para assegurar que os resultados do mais amplo estudo já conduzido sobre BPA sejam incluídos nas avaliações e reavaliações sobre a segurança do material. Adicionalmente, compartilhamos informações sobre BPA com clientes através de cartas e briefings e planejamos discutir as conclusões do estudo Clarity com eles. Nós também continuaremos a reiterar a informação de que BPA e PC são pesquisados extensivamente, são seguros para os usos indicados, e que o polímero produzido a partir de BPA tem desempenho melhor e a custo menor que qualquer outro substituto disponível. •

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