A sorte está lançada

Aumento na oferta interna torna o cenário mais desafiador para PET

visor620Os orixás vão ter de orar dobrado para atrair bons fluidos para PET em 2016. Após amargar em 2014 o primeiro recuo no consumo brasileiro desde os idos de 2000, o poliéster já sente na nuca o bafo de declínio pior pela frente. Pois além da dupla tridente & enxofre -recessão & inflação-, não sair do palco, será o primeiro exercício da Petroquímica Suape (PQS) em todo o seu esplendor. Até então, ela rodava apenas com um de seus dois trens de 225.000 t/a de PET. Sem foguetório e trombetas, a última parcela partiu em novembro, atesta Fernanda de Souza Belli, da área de Coordenação de Inteligência de Mercado e Marketing da estatal. Resumo da ópera: a capacidade nominal do Brasil passa a 950.000 t/a da resina perante mercado por volta de 35% abaixo e, para fechar o tempo de vez, crepita no exterior o já crônico excedente do polímero.

A Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) passa a régua nesta novela de ascensão e queda. De 2000 a 2014, situa a entidade, o mercado de PET virgem pulou de 225.000 para 608.000 toneladas, na garupa da média anual de 6,49% de crescimento. No fatídico 2014, porém, veio o primeiro recuo, -1,94% e manda a crueza da lógica que o vermelho tinja o balanço de 2015. Exemplo: bebidas não alcoólicas, uma tribuna de honra para frascos de PET, fecharam 2015 com queda da ordem de 3,9% nas vendas, calcula Olegário Araujo, diretor da consultoria Inteligência de Varejo. Em meio à descida da ladeira sem acostamento, a prosseguir em 2016, a PQS fez sua escolha de Sofia (decisão difícil de ser tomada), entre arcar como custo de manter ociosa 50% de sua capacidade ou acionar o segundo trem com mercado interno e externo longe de uma boa.

O primeiro impacto causado pela engorda na oferta interna de PET, na garupa do segundo trem da PQS, será a óbvia queda de preço, raciocina Simone de Faria, dirigente no Brasil da consultoria norte-americana Townsend Solutions, empoleirada na lei da oferta e da procura. Conforme assinala, a cotação do poliéster tem estado muito baixa na Ásia, na casa de US$ 900/t, atingindo no Brasil US$ 880/t CFR na primeira metade de dezembro. “As importações brasileiras de PET caíram à metade este ano e devem restringir-se a pequenas quantidades de grades específicos em 2016; portanto, não há muito espaço para reajustes com tamanha oferta doméstica”. Para Simone, os dois produtores locais de PET, PQS e M&G, que negou entrevista, terão que trabalhar em reduções de custos e aumentar vendas para conseguir resultados melhores num cenário de excedente interno e mundial. “Não há mágica e deve levar no mínimo 10 anos para o Brasil chegara a um equilíbrio entre oferta e demanda de PET”. Maurício Jaroski, analista da consultoria MaxiQuim, tem uma visão diferente. “Até o momento, as cotações internas não têm sido influenciados pela entrada da PQS e os dois produtores locais praticam preços semelhantes, baseados nos asiáticos”, ele avalia. “Não vejo o mercado interno mudando esta forma de precificação em 2016 devido ao aumento da produção nacional”. Jaroski também não encara essa superoferta de PET como algo negativo. “Ao contrário, será uma motivação para desenvolver mais a demanda interna e é bem plausível a exportação do excedente sob a escora do câmbio atual”.

Simone digere com ressalvas a hipótese, brandida por Jaroski, de mais aplicações se abrirem para PET sob pressão do aumento de sua oferta. “É um raciocínio válido, em particular, para novos produtos, em situações de desenvolvimento da embalagem e não de simples troca dela”. Num rasante, a consultora não vê o poliéster como boa alternativa a produtos dependentes de barreira ao vapor d’água, “mas sua entrada é mais fácil em frascos de cosméticos, higiene pessoal e limpeza doméstica e as possibilidades são grandes em lácteos, bebidas alcoólicas, conservas e alimentos congelados submetidos ao microondas”, ela descortina. Auri Marçon, presidente da Abipet, julga tímida e com chances de expansão a presença de PET em bebidas alcoólicas e se anima com a receptividade ao material encontrada em redutos como lácteos e sucos prontos para beber. “PET se beneficia de vários argumentos para um material substituir outro em embalagens, a exemplo da resistência mecânica e química, alta produtividade e economia de energia na produção dos frascos, os ganhos logísticos proporcionados pela leveza e a resposta ambiental do material, mérito das altas taxas de reciclagem”. Nesse ponto, Marçon sublinha o crescimento de embalagens contendo PET reciclado bottle to bottle (BTP). Trata-se de um avanço limitado pela demanda de apelo ecológico, explica, e não pela evolução da capacidade produtiva desse reciclado premium no país. “Grandes brand owners que buscam agregar valor com o uso de reciclado são os principais atores a interferir na procura por PET BTB”, comenta o dirigente. No momento, informa, um contingente estimado em torno de cinco empresas estão homologadas ou em vias de obter a certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para suas unidades de PET BTB fornecerem para embalagens de alimentos.

De volta ao pente fino da Abipet, as vendas internas da resina virgem somaram 494.000 toneladas em 2014, enquanto as importações brasileiras de pré-formas alcançaram 114.000 toneladas. Um ano antes, o exercício fechava em 620.000 toneladas, resultantes da soma de 517.000 toneladas colocadas do polímero e de 103.000 toneladas de pré-formas desembarcadas. Em contraste, aponta a entidade, a quantidade de garrafas de PET produzidas em 2014 aumentou 3,24% em relação ao ano precedente. “Em toneladas, o consumo de PET em 2015 também pode ter sido menor, mas a quantidade de garrafas produzidas aumentou e estão ficando mais leves, de modo que se utiliza menos resina para gerar o mesmo número de garrafas de anos atrás e fica claro, assim, que a queda no volume empregado de resina não implica necessariamente retração no consumo de bebidas envasadas em PET”, defende Jaroski.

A descida de 1,9% no consumo de PET virgem em 2014 não traduz uma ruptura na trajetória histórica de PET, sustenta Auri Marçon, sem abrir projeção do recuo do movimento da resina em 2015. “Essa queda decorre tanto da retração da economia como da evolução tecnológica na transformação, caso da redução no peso das garrafas”, comenta. “Como balanço, tivemos em 2014 um aumento superior a 3% na produção de embalagens, fruto da participação mantida em alguns mercados e da expansão em outros, caso de água mineral. No plano mais recente, também vemos determinados produtos recorrendo mais ao envase em PET, como leite UHT, água de coco e sucos”. Apesar desses feitos, o presidente da Abipet modera o tom das perspectivas. “Embora PET se insira em segmentos muito próximos da categoria cesta básica, é inevitável que o setor sofra com longa estagnação se perseverar a atual conjuntura de recessão, altíssima taxa de juros, câmbio com flutuação irregular e a desmotivação para investimentos e desenvolvimentos de mercados”.

Pelo escrutínio da austríaca Alpla, referência mundial na transformação de PET, garrafas de 1.000 ml e 2.000 ml pesavam, respectivamente, 40 g e 56 g em 2002. Dez anos depois, os mesmos indicadores passavam para 33,6 g e 42,6 g. Esse empenho no emagrecimento da embalagem é captado em cheio pelo estardalhaço com que a mineira Algar Agro lançou em 2015 uma garrafa para seu óleo de soja apregoada como a mais leve no gênero do planeta. Edney Valente, coordenador de projetos estratégicos da empresa, atribui o mérito dessa sacada a uma pesquisa a seis mãos de sua empresa com os fornecedores de suas duas injetoras e uma sopradora de pré-formas, respectivamente a canadense Husky e a francesa Sidel. A nova garrafa, aliás, surgiu a tiracolo de outra sacudida da Algar Agro na praça: a decisão de verticalizar-se na produção da garrafa PET de 14 g para envase de 900 ml do óleo vegetal ABC. Valente esclarece ter baixado assim em 58% seus custos de embalagem, além de abrir outra frente de negócios, por meio da venda do seu excedente de pré-formas.
Parceira de primeira hora da Algar Agro, as máquinas da Husky, última palavra na tecnologia global de injeção de PET, forneciam pré-formas de 14 g. O peso atual foi decepado à metade, informa Paulo Carmo, gerente da unidade de negócios de embalagens da Husky Brasil. “ Embalagens mais leves exigem pré-formas de paredes mais finas, de produção dependente de máquinas caracterizadas por pressões e velocidades bem mais altas, sem falar em sistemas avançados de controle do processo e manuseio das pré-formas”, expõe o especialista. Quanto aos moldes, completa, os requisitos passam pela robustez e tecnologias de materiais, resfriamento e câmaras quentes fora do convencional. No embalo, Carmo embarca na corrente de que a evolução e quebra de paradigmas na história das embalagens de PET indicam que o céu é o limite para a leveza das pré-formas. “Novos métodos e tecnologias volta e meia quebram barreiras antes tidas como definitivas. Além do mais, é difícil fixar limites para a percepção do usuário final”, ele considera. Em paralelo, a espessura dos gastos do transformador também tem diminuído. “Ao logo dos últimos 10 anos, estima-se que o custo de uma pré-forma tenha caído em torno de 35% nos sistemas da Husky”, sustenta Carmo, atribuindo o recuo a uma passarela de fatores onde desfilam desde a economia energética por quilo processado a soluções para redução dos ciclos e tempos de set up,ilustram injetoras como o modelo HyPET HPP 5.

Calçado em projeções da consultoria Euromonitor International, Carmo repassa que PET responde por 92% das embalagens brasileiras de água mineral, universo estimado em 5,1 bi de litros em 2015. No compartimento dos carbonatados (refrigerantes), a participação é de 51% dos recipientes nacionais para esse segmento no mesmo período, calculado em seu todo em 17,9 bi de litros. Ainda quanto a 2015, a presença de PET é mensurada em 27% do total de embalagens domésticas para o reduto de sucos, chás e bebidas esportivas, campo traduzido pela consultoria em 4,4 bi de litros. No embalo, a Euromonitor prevê que, entre 2013 e 2018, o envase no Brasil de água em PET deve subir 6%; 2% em refrigerantes e 3% em sucos, águas e bebidas esportivas.

Entre as tendências em desdobramento no Brasil, Carmo atenta para o potencial de PET em bebidas sensíveis, algo já visível na praça nas formas de garrafas como as do suco de laranja Natural One, do leite UHT Shefa e de frascos do iogurte Activia. A Husky, aliás, acena para esse segmento com a possibilidade de ganhos em leveza e shelf life com a injeção de pré-formas multicamada com barreira de poliamida. “O desenvolvimento das tecnologias de produção de pré-formas monocamada ensejou o fornecimento eficiente e competitivo das multicamadas, colocando-as em foco no mundo para aplicações previstas para curto prazo, a julgar pelo interesse despertado em mercados como lácteos, sucos e cervejas”, acena Carmo.

Carmo atenta, em particular, para o potencial a descoberto para PET em garrafões retornáveis. No Brasil, esse segmento é dominado à larga pelo sopro de copolímero random de polipropileno (PP), uma nota destoante da praxe mundial no ramo, o emprego de policarbonato (PC). Ocorre, no entanto, que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) veta o uso de PC em embalagens de alimentos por conter o polêmico (e mal defendido) ingrediente bisfenol A. Com isso, abrem-se as portas dos garrafões para PET, a cavaleiro de suas propriedades mecânicas, químicas e da transparência em grau inacessível a PP. Para fazer salivar a ala do poliéster, a Euromonitor descortina céu sem nuvens para o consumo de garrafões continuar a flanar no Brasil. Apenas no âmbito das versões de cinco litros, distingue a consultoria, o movimento tende a crescer 48% entre 2009 e 2019.

“O Brasil é exceção mundial no uso intensivo de PP em garrafões retornáveis”, reconhece Carmo. A seu ver, é uma escolha justificada pela disponibilidade local da resina e o baixo investimento inicial necessário para soprá-la. “São características compatíveis com um mercado fragmentado e cujas demandas não são de alto volume”. Mas as chances para PET se dar bem, saindo da discrição atual nos garrafões, são ponto pacífico, ele enxerga. Jogam a favor, coloca, atributos como resistência mecânica e a riscos, a possibilidade de baixar o peso e a produção de invioláveis e precisos gargalos de fecho hermético. “O mercado brasileiro de garrafões tem estudado o modelo de negócio de pré-formas e garrafas abaixo de dois litros”, assinala Carmo.

“Ainda há muitos envasadores e indústrias de água mineral de menor porte e, para eles, o investimento em PET é caro”, observa Simone de Faria. “Mas grandes empresas do setor já substituem PP por PET em garrafões de 20 litros”. Maurício Jaroski assina embaixo. “O investimento em garrafões de PET é muito superior”, afirma. “Como sofre pouco estiramento no sopro, a pré-forma, molde e injetoras devem ser grandes, encarecendo assim os gastos. PET tem preço menor que PP, mas a diferença não contrabalança o custo inicial da produção, brutalmente maior e, a propósito, a máquina para trabalhar com PP é uma convencional sopradora por extrusão contínua, de baixo custo relativo”, compara o consultor.

Auri Marçon atribui a PET cerca de 20% de participação no mercado brasileiro de garrafões, trajetória reconhecida por ele como lenta e atrelada ao fluxo de investimento, sendo poucos os fornecedores desse tipo de pré-forma. Mas o jogo pode virar. “Os usuários desistiram dos garrafões de PC devido ao preço da resina e os de PP começam a calcular a durabilidade e reposição do recipiente”, nota o presidente da Abipet. “PET deve mostrar melhor performance nesses quesitos e, aliás, sua presença na versão de 20 litros está bem em linha de validade de três anos estipulada pela regulamentação para os garrafões”. •

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