A nova sedução da produção

A indústria não tem mais lugar para o operador que não passa de um tirador de peças
Alexandre Farhan

Está em andamento um processo de desindustrialização no Brasil e, para agravar o cenário, os jovens não estão mais interessados em trabalhar em fábricas, em especial na área operacional. O setor plástico não é exceção a esta preferência da nova geração pelo setor de serviços, comportamento preocupante para o futuro da manufatura em geral. Exemplifico a tendência com meu filho de 15 anos, disposto a mudar para o Canadá após constatar a procura por profissionais de TI e gastronomia no país.

Na verdade, a imensa maioria dos jovens ignora as oportunidades no universo dos plásticos e, tal como a população em geral, não percebe por trás do produto a infinidade de materiais, suas peculiaridades e seus processos de transformação. Enfim, uma tecnologia de sofisticação e custos elevados demais para ser deixada nas mãos de um operador despreparado. A propósito, o curso profissionalizante que dirijo na Escola LF procura abrir os olhos dos alunos para o atrativo do leque de áreas produtivas do plástico, entre elas a operação, programação, preparo de máquinas, laboratório, PCP etc. O jovem deve começar como operador de equipamentos e, conforme seu perfil, foco e dedicação, podem se tornar engenheiros, gerentes e até empreendedores. Contudo, a maioria dos iniciantes de hoje em dia quer tudo muito fácil, sem grande esforço e ganhando bem, mesmo no primeiro cargo exercido. Vamos aos números: a depender do porte da transformadora, um operador recebe em torno de R$1.300 de uma micro ou pequena empresa. Na ala das médias, pode ganha de R$1.500 a R$ 1.800 e, nas indústrias maiores, de R$1.800 a R$ 2.500, salário balizado também por seu grau de qualificação. A bagagem de conhecimentos, aliás, é a chave para alguém não marcar passo como operador, subindo no mínimo à função melhor remunerada de preparador de máquinas. Aliás, corre o argumento de que os jovens também voltam-se para as oportunidades em serviços, em detrimento do chão de fábrica, por achar repetitivo o trabalho do operador. E é mesmo, se a pessoa ficar apenas catando e rebarbando as peças. Mas tudo muda de figura e ganha dinâmica quando a função passa a envolver o preparo da máquina, troca de moldes e programação de robôs e demais ferramentas de automação.

O cenário dos postos de trabalho é inquietador. Em 2017, o setor transformador empregava 310.000 pessoas, um efetivo abaixo dos 311.000 contratados 10 anos antes. As causas desse balanço frustrante incluem políticas de redução de custos e fechamento de empresas, levando a demissões, e a diminuição da mão de obra devido à modernização e automação do parque fabril, dois fatores por sinal dependentes de pessoal mais gabaritado. Além do mais, sobram empresas desmotivadas para investir na reciclagem da mão de obra, efeito do péssimo ensino ministrado por alguns consultores e entidades – situação frustrante para o aluno e para os resultados esperados pela indústria.

É fato que, no nosso setor plástico, a Indústria 4.0 ainda é uma utopia necessária, com décadas pela frente para penetrar no empresariado menor que compõe o grosso da transformação de plástico, um setor dominado por maquinário obsoleto, carência de recursos e, não raro, de mínimas condições de segurança do trabalho. É por tudo isso que os cursos da minha escola buscam formar não um tirador de peças da máquina, mas um operador qualificado para, mais adiante, preparar os equipamentos, reduzir set up e tempos ociosos, solucionar irregularidades e interagir com a informatização e automação. Em suma, alguém linkado com uma manufatura que ruma para a Indústria 4.0. Disso não há jovem que não goste.

Alexandre Farhan é diretor técnico da Escola LF
alexandre@escola lf.com.br

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1 Comentário

  • Olá Alexandre.
    Parabéns pelo artigo e escolha do tema.
    Nossos gestores estão realmente precisando de reciclagem quando tratamos do assunto: Gente.
    Hoje a preocupação e econômica: lucratividade, operações, metodologia, etc. Ou seja, o foco está na robotização.
    Esta na hora de pensarmos no humano, em como criar um ambiente onde ele possa usar suas habilidades intelectuais criando assim um ambiente onde ele tenha vontade e prazer em se engajar através da contribuição!
    Palavras chave para elevação na gestão: #propósito e #autonomia.

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