A nova orientação do filme

Geribá Investimentos injeta sangue novo na Polo Films

Antes mesmo da largada da piora da economia, ao final de 2014, o segmento brasileiro de poliprolileno biorientado (BOPP) arfava sob o descompasso entre a atual capacidade instalada, da ordem de 210.000 t/a e o consumo estabilizado na órbita de 140-150.000 t/a e com participação relevante de bobinas importadas. Mas tudo passa, crises inclusas, e o negócio desse filme imperador em embalagens que vão de massas e biscoitos a chocolates e snacks continua com muito espaço a descoberto no país. Com esse voto de confiança, a Geribá Investimentos, fundo privado até então à margem do setor plástico, formalizou em novembro último a compra da Polo Films, indústria de BOPP posta à venda pelo Grupo Unigel sob pressão de seu endividamento. Com a transação, o fundo assume o leme da fábrica há 18 anos em operação na gaúcha Montenegro e com potencial para gerar 78.000 t/a de BOPP a cargo de três linhas da alemã Brückner. Nesta entrevista, Paulo Figueiredo, sócio fundador da Geribá, deixa claro que o saneamento financeiro da Polo é página virada e o desbravamento de aplicações do filme em embalagens de maior valor agregado está na ordem do dia do novo modelo de gestão.

PR – Qual a motivação da Geribá para adquirir uma indústria ligada ao setor plástico, pelo qual o fundo nunca transitou?
Entendemos que a Polo era uma oportunidade única, por se tratar de uma empresa bem estruturada com produtos de qualidade reconhecida e parque fabril moderno. Com uma gestão renovada, poderia ter resultados bem mais atrativos, até porque o grupo a quem pertencia não tinha foco em BOPP. A Geribá já tem experiência com aquisições de subsidiárias non-core, por exemplo na aquisição da Iqara Energy (depois Ecogen do Brasil) do grupo BG.

A Polo estava à venda há anos, efeito do endividamento da Unigel. Nesse ínterim, não atraiu concorrentes nem investidores de outros segmentos de flexíveis plásticos. Quais os atrativos e oportunidades enxergados pela Geribá que passaram batido, pelo visto, aos olhos de quem milita há bom tempo no ramo?
De fato, a Polo era, sim, enxergada por vários potenciais investidores como um investimento muito atrativo. No entanto, a Unigel não estava preparada para vender a empresa que fazia parte do seu grupo por mais de duas décadas. Na realidade, foi o agravamento recente da situação financeira da Unigel que fez com que tivéssemos a oportunidade de estruturar esta operação e efetivar a aquisição tentada no passado por vários competidores.

Qual o montante investido pela Geribá na Polo e em quanto tempo antevê o retorno do capital aplicado?
Além do investimento de cerca de R$ 80 milhões no capital de giro da empresa, a Geribá reestruturou as dívidas com os principais credores, estendendo o prazo para saldá-las para 10 anos – aliás, um prazo nada habitual nesse tipo de operação envolvendo indústrias no Brasil. Vencida essa etapa, podemos assegurar que as finanças da Polo estão hoje bem estruturadas. Quanto ao retorno do capital, a Geribá tem uma visão de longo prazo e estamos melhorando a performance da empresa para garantir este retorno.

Quais as principais mudanças que a Geribá está implantando na gestão da Polo?
O modelo de gestão da Geribá tem alguns valores fundamentais, tais como agilidade e transparência, baixa hierarquia e foco em pessoas, no cliente e em resultados. Um diferencial importante será o foco e acompanhamento dos acionistas, lado a lado com a diretoria, do dia a dia do negócio. A Polo já mudou seu escritório em São Paulo para ficar contígua à sede da Geribá e as equipes trabalham em conjunto. Nós já encontrávamos os mesmos valores em muitos colaboradores da Polo; inclusive estamos operando com funcionários que já faziam parte da empresa. O novo CEO, Antonio Jou, por exemplo, já acumula aproximadamente 20 anos de casa.

De quais negócios e setores a Geribá participa?
A Geribá possui três áreas de atuação. Em energia, atua como sócia principal de três empresas. Uma delas foca a geração de energia e eficiência energética, outra dedica-se a instalações elétricas e o campo da última é a instalação de geração solar e, neste momento, ela está prestes a abrir uma empresa de comercialização de energia. Na área imobiliária, a Geribá é sócia de uma construtora e incorporadora no interior paulista bem como participa como investidora em vários projetos de incorporação/construção. Por fim, temos a chamada área de Private Equity / Special Sits e a Polo integra o seu portfólio. Estamos avaliando alguns potenciais novos negócios.

O magnetismo de BOPP

À frente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e presidente executivo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Roriz Coelho conhece BOPP dos dois lados do balcão. Boa parte de sua milhagem de voo na petroquímica foi acumulada em produtoras de polipropileno (PP) e sua estreia no front da transformação deu-se como dirigente da fabricante do filme biorientado Vitopel. Com base nessa vivência, Roriz justifica com uma visão globalizada do negócio a presença de fundos privados no controle das duas maiores indústrias de BOPP no país – a Geribá Investimentos na Polo Films e a Vision Capital na Vitopel. “Transformadores de BOPP são grandes fornecedores de produtos para uma infinidade de aplicações e bons para exportar”, ele assinala. “A possibilidade da atuação estratégica em duas frentes, doméstica e externa, atrai esses fundos”.

BOPP é o único segmento da transformação brasileira de plásticos que tem a presença de fundos privados de investimentos entre seus controladores: a Geribá na Polo e Vision Capital na Vitopel. Como vê esta peculiaridade?
A atuação dos fundos de private equity ainda mostra-se relativamente limitada no Brasil; então existem várias indústrias que, por questões pontuais, não tiveram participação relevante desses fundos. Mas vale lembrar que, antes de comprar a Vitopel, a Vision Capital participou do controle da Terphane, produtora de filmes biorientados de poliéster (hoje controle da norte-americana Tredegar). Acreditamos que, com o passar do tempo, esse quadro poderá mudar, pois a transformação de plástico trata-se de um tipo de indústria com necessidade de capital intensivo e, naturalmente, fundos privados de investimento acabam sendo uma solução para isso.

O segmento brasileiro de BOPP hoje exibe capacidade instalada bem acima da oferta, incômoda concorrência importada do Cone Sul, demanda estabilizada em razão da crise desde 2015 e a imagem de uma embalagem comoditizada. Como enxerga as possibilidades de a Polo, com a Geribá no leme, deslanchar nesse cenário e agregar valor ao portfólio de filmes biorientados?
Junto com a diretoria da Polo, a Geribá está traçando várias oportunidades para agregar valor à empresa. Já há novas parcerias com clientes, fornecedores e um novo planejamento estratégico de longo prazo. Pretendemos crescer focando, além dos filmes em si, o serviço e apoio a clientes que geram uma diferenciação importante. Mas mesmo no âmbito dos filmes a Polo é, por exemplo, a única produtora de BOPP do Brasil que atende o mercado de embalagens para cigarro. Em paralelo, existem outras oportunidades para o filme na singularização de embalagens de valor agregado. E hoje a companhia tem os recursos necessários para explorar essas possibilidades.

Um concorrente da Polo, o Valgroup, é um convertedor de flexíveis verticalizado em BOPP e também vende o filme biorientado a terceiros. Qual a possibilidade de a Polo se diferenciar agregando à sua atividade uma operação de conversão?
Não está hoje no nosso radar. Nosso foco é produzir filmes de BOPP e não concorrer com clientes. Vale lembrar que a Polo já entrou no setor de embalagens com a fabricante de rótulos PP Print, subsequentemente vendida.

Uma vez saneadas as finanças e com o negócio voltando aos eixos azuis do crescimento, a Geribá considera vender a Polo, movimento habitual na seara dos fundos?
As finanças da Polo já estão saneadas e, com endividamento de longuíssimo prazo, temos fôlego para investir e crescer o negócio de forma conservadora. A visão da Geribá, diferente de outros fundos, é de longo prazo, como sempre fizemos com outras empresas. Os investimentos aportados e os que ainda pretendemos fazer na Polo também são de longo prazo. A venda da empresa não é, hoje, o nosso objetivo. •

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