A leitura das marés

A distribuição de resinas é um termômetro extraoficial do pesadelo da economia...
Laércio Gonçalves
Laércio Gonçalves
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A distribuição de resinas é um termômetro extraoficial do pesadelo da economia. Em seu dia a dia, os distribuidores atuam em contato com os mais diversos perfis de clientes, sejam empresas competitivas ou despreparadas e de gestão frágil. Em meio a uma conjuntura recessiva e agravada pela instabilidade política, um dos maiores desafios para as organizações é dar continuidade à busca pelas melhores práticas de administração. Em português claro: todo mundo nada de braçada na maré cheia, mas quando ela baixa é que vemos quem está nu.

Por causa disso, muitas empresas buscam modelos de gestão capazes de suportar as mudanças cotidianas de forma a minimizar seus impactos e aproveitá-los para melhor orientar o planejamento estratégico. Porém, esses modelos de gestão não são construídos da noite para o dia; exigem tempo para sua idealização, implantação e monitoramento das ações na prática. Fazer tudo isso em meio à crise e com o barco em alto mar é muito difícil!

Empresas que camuflam falhas da gestão incompetente sofrem o diabo nesses momentos ruins. Muitas delas não aguentam a maré baixa passar. Daí as chances bem maiores de sobrevida para uma companhia em constante procura por meios de afiar seu desempenho. Retomando o fio para o Brasil de hoje, o fim de linha para empresa que nada pelada na maré baixa já era esperado antes da crise por meio mundo entre os fornecedores dela. Para bom entendedor, a recessão tem agido, nesse caso, feito o catalisador de um destino inevitável. Algo assim como uma junta médica que convence a família da melhor solução para o moribundo na UTI financeira: desligar os aparelhos.

E quais são as típicas falhas de gestão? Por exemplo, uma empresa não possuir software de planejamento de recurso corporativo (ERP) ou um sistema de gerenciamento de informações estruturado. Também são pecados imperdoáveis não ter controle do fluxo de caixa, não saber a quantidade de produtos estocados e seu custo financeiro, o prazo médio de recebimentos e de pagamento de fornecedores e, para não alongar muito essa lista de derrapagens, a ignorância do market share e do perfil de concorrentes. Trabalhar às cegas desse jeito é como relaxar na proa do navio enquanto litros e litros de água entram por um furo enorme no casco.

Esse despreparo, é bom frisar, não se restringe às indústrias menores e menos capitalizadas. Antes da crise, a Activas, minha distribuidora, já negava crédito para, por exemplo, indústrias que eram motivo de orgulho nacional em peças técnicas. Na prática, porém, ou davam calote ou retardavam ao máximo os pagamentos. Estão em recuperação judicial ou faliram.

Recuperação judicial é um recurso para uma companhia se reorganizar e redesenhar o passivo para sair de um problema financeiro momentâneo. Vida de empresário é cheia de altos e baixos. Em todos esses anos, porém, não vi uma empresa em recuperação judicial normalizar suas operações. Em geral, ela ganha tempo, ganha fôlego e o proprietário acaba abrindo outra razão social e fecha a empresa em recuperação.
A gestão obsoleta costuma ser acompanhada pela sonegação fiscal. Justificativas de todo tipo são utilizadas pelos sonegadores, desde a carga tributária e burocracia para quitar impostos à corrupção entre os responsáveis pelo destino do tributo. Até pode haver algum mérito nesses argumentos, mas o fato é que alimentam uma praga da economia nacional: a concorrência desleal.

Com a implementação dos instrumentos tecnológicos, que cruzam informações, está cada vez mais difícil para uma empresa sobreviver com essas práticas e não ser pega pelo Fisco, ainda mais quando o governo precisa aumentar com urgência as arrecadações. Além disso, após a Lava Jato, muitos fiscais andam inseguros e temerosos de receber propinas.

Parafraseando Tom Jobim, o mercado brasileiro deixou de ser para principiantes.•

*Laércio Gonçalves é presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas e Bobinas Plásticas e Afins (ADIRPLAST) e da distribuidora Activas.

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