A indústria discute o futuro

A conjuntura agravou-se a ponto de eternas pautas de reflexões da indústria, como a corrida tecnológica ou prospecção de mercados, terem cedido lugar ao debate sobre o definhamento do setor. Sismógrafo extra oficial dos humores da economia, o plástico foi puxado para o epicentro desse turbilhão no IV Seminário Competitividade: o Futuro Perfil da Transformação Brasileira de Plástico, realizado pela Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e Plásticos em Revista em 30 de setembro último, em São Paulo. No quadro de patrocinadores, formaram a Braskem, M&G, Dow, Aditya Birla, Epema e a Associação Brasileira de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast).
O auditório do Hotel Melià lotou e o pavio do ibope foi aceso pelo temário voltado para o balanço dos últimos quatro anos e o que a cadeia do plástico pode esperar daqui para a frente. Para esse banho de imersão, o seminário foi cindido em dois blocos. No primeiro, após introdução a cargo de José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast, porta-vozes de três vertentes chave da indústria final e seus fornecedores de transformados destrincharam suas análises. Na seção relativa a produtos de consumo, o palco foi ocupado pelas palestras de Getúlio Ursulino Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), e de Davide Botton, diretor superintendente da Polo Films. A seção seguinte centrou-se na trajetória da construção civil, avaliada por Paulo Melo, diretor responsável pela operação da Odebrecht Realizações Imobiliárias nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal, e por Vinícius Miranda de Castro, gerente nacional de vendas  a construtores e indústrias da Tigre. A seguir, a indústria automobilística virou o centro das atenções por obra das palestras de Luiz Carlos Mello, ex-presidente da Ford no Brasil e dirigente do Centro de Estudos Automotivos (CEA), e de Marcos Ribeiro, presidente executivo da Jacto S/A-Divisão Unipac. O fecho dessa primeira parte coube à exposição sobre a evolução da demanda, desafios e oportunidades no âmbito de resinas, ministrada por Luciano Guidolin, vice-presidente executivo de poliolefinas, vinílicos e renováveis da Braskem.
A parte final do seminário, arrematada pelas ponderações de Carlos Fadigas, presidente da Braskem, deu corpo à trajetória da economia nacional e a modelos de política industrial por especialistas desvinculados do universo do plástico. Entre eles, dois coordenadores do programa da ex-candidata presidencial Marina Silva, os palestrantes Maurício Rands, ex secretário do governo pernambucano, e o professor Marco Bonomo. A coordenação da campanha da presidente Dilma designou como fonte do governo o professor e pesquisador André Moreira Cunha. Do lado do candidato Aécio Neves, não houve disponibilidade de agenda para envio de um porta-voz. Sem elos com qualquer candidatura ou partido, completou o quadro o professor emérito de Economia e ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento Antonio Delfim Netto, cujo título da palestra disse tudo: “A Tragédia da Indústria”.

Críticas e advertências
Um bordejo pelos pratos apimentados servidos no ciclo de palestras

Antonio Delfim Netto
Por que o Brasil não cresce. Respostas
1] Investe-se pouco
a] Porque a prioridade do governo foi a expansão do custeio e  não do investimento (deterioração da infraestrutura).
b] Porque no setor privado:
i. Existe excesso de burocracia que inibe a iniciativa e  aumenta o risco; intervenções pontuais diminuíram a previsibilidade da política e aumentam as incertezas.
ii. Porque o clima de negócios ficou mais difícil.

2] Porque faltou apoio às exportações:
a] Política cambial previsível e sem objetivos secundários,   como o controle da inflação.
b] Taxa de câmbio relativamente competitiva.
c] Inteligente sistema de tarifas efetivas.
d] “Draw-back” verde amarelo.
e] Absoluta exoneração tributária das exportações.
f] Crédito a taxa de juros internacional.

3] Governo perdeu a credibilidade:
a] Financiamentos questionáveis:
BNDES, Caixa Econômica Federal.
b] Contabilidade “criativa” na área fiscal.
c] Intervenções mal sucedidas no setor elétrico e nos portos.
d] Desarranjos na Petrobras.
e] Incertezas quanto aos marcos regulatórios.
f] Desconfiança mútua: Governo x Empresas privadas.

Perspectivas para 2015
Será um período de ajustes. A abrangência e a profundidade das medidas dependem de quem for eleito.
As primeiras ações do governo serão importantes para que se tenha maior credibilidade junto ao empresariado.
Os fundamentos básicos da economia (PIB, inflação, fiscal e setor externo) não conseguem produzir mudanças num prazo curto.
No entanto, as expectativas do setor privado podem se alterar. Se elas forem positivas, os empresários vão ampliar seus negócios, investindo e tomando riscos.

 

José Ricardo Roriz Coelho
*Desde 2004, a produção física da indústria de transformados plásticos encontra-se estagnada, enquanto as importações aumentaram 158%.
*A participação das indústrias de manufatura em geral no PIB caiu para 13% em 2013, o menor patamar nos últimos 50 anos.
*O preço do produto industrializado nacional é 33,7% superior ao do trazido de 15 países detentores de 76% das importações brasileiras, diferença causada pelo Custo Brasil e valorização cambial.

 

Getúlio Ursulino Neto
*De 590.000 toneladas em 2008, o consumo aparente brasileiro de chocolates  saltou para 800.000 toneladas em cinco anos.
*Entre 2013 e 2018, o faturamento do setor nacional de chocolates premium deve crescer 26%- de R$2,3 bi para R$2,9 bi.
*Em 2011, o Brasil foi reconhecido como o terceiro produtor mundial de chocolate, atrás apenas dos EUA e Alemanha.
*No primeiro semestre deste ano versus mesmo período em 2013, a produção brasileira de chocolates caiu 4,3%; as exportações diminuíram 4,1%; o consumo aparente baixou 3,5% e as importações aumentaram 14,3%.
*7 passos para a indústria brasileira de chocolates alcançar posição competitiva global:
a] Desenvolver mentalidade global
b] Construir reputação de qualidade
c]  Alcançar padrões globais
d] Criar marcas mundialmente admiradas
e] Associar-se a parceiros locais
f ] Investir em automação
g] Explorar avanços em produtos nutracêuticos.

 

Davide Botton
*A demanda brasileira de BOPP cresceu à média anual de 5% entre 2008 e 2013. Para os cinco anos seguintes, a projeção de expansão é de 3% anuais.
*O setor brasileiro de BOPP hoje acusa excesso de capacidade, alta participação de importações e baixa de exportações.
*O consumo brasileiro per capita de BOPP perde para o de emergentes menores como  Argentina, Colômbia, Chile e México.
*As ameaças à indústria brasileira de BOPP passam pela sobreoferta regional e mundial do filme; comoditização acelerada dos produtos; perda de competitividade em eficiência e custos e falta de defesa de política comercial.

 

Luiz Carlos Mello
*O Mercosul é uma excrescência para a indústria brasileira por privá-la do acesso a acordos bilaterais bem mais proveitosos que o comércio no bloco.
*As exportações da indústria automobilística são inexpressivas porque, embora tenhamos montadoras estrangeiras atuantes no Brasil, elas não são indústrias nacionais.Devido a isso, desenvolvimentos e políticas de comércio exterior são determinadas pelas matrizes.
*Excedente de capacidade na indústria automobilística brasileira não é problema.Afinal, tanto novas fábricas como expansões das unidades existentes concretizaram-se à custa de benefícios fiscais. Além desse colchão, as montadoras seguem o conceito de produção modular – para atender a uma demanda mais aquecida, basta contratar mais gente ou comprar mais robôs.
*Grandes fábricas automobilísticas estão fadadas à decadência, devido à adesão mundial do setor ao sistema de manufatura aditiva.
*Entre os obstáculos à frente da indústria automobilística do Brasil, destaque para a ausência de uma montadora nacional, falta de autonomia local para decisões estratégicas de vulto, baixos índices de inovação e produtividade  e empreendedorismo contaminado pela cultura de dar o peixe sem ensinar a pescar.

 

Paulo Melo
*A projeção para o PIB da construção civil é de R$245 bi este ano contra R$ 226,4 bi em 2013.
*Índices de confiança do consumidor e indústria  estão entre os menores níveis em cinco anos. A alta correlação entre tais indicadores  e o desempenho da economia sugere fraqueza do crescimento .
*Entre 2007 e 2012, o déficit habitacional caiu 7%, efeito conjugado da registrada redução de 30% nos indicadores de habitações precárias; de 24% no quesito da coabitação e de 3% no de adensamento excessivo. Além do mais, o ônus excessivo com aluguel subiu 30% no mesmo período.
*Em 2013, o crédito imobiliário incidiu no Brasil em 8% do PIB e deve passar a 9% este ano. Entre as referências internacionais, o mesmo índice subiu no ano passado para 12% na Tailândia, 15% no México e 20% no Chile.

 

Luciano Guidolin
*32 milhões de toneladas serão acrescidas até 2019 à capacidade global de eteno, reflexo de expansões nos EUA, Oriente Médio e China. Além dos crackers base etano, investimentos no produto pela rota nafta serão necessários para abastecer o mercado daqui a cinco anos.
*A projeção para este ano da demanda brasileira de PE é de avanço da ordem de 1,8%, devido ao desempenho da indústria de bens não duráveis.
*As demandas internas de PP e PVC devem recuar, respectivamente, 3% este ano. No caso da poliolefina, efeito do desempenho do segmentos automotivo e da linha branca. Quanto ao vinil, a justificativa é a crise na construção civil.
*A partir de 2015, a Braskem amplia em 120.000 toneladas sua produção de PEBDL, decorrência de desgargalamento orçado em US$50 mi em unidade multipropósito na Bahia. •

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