A caminho de virar um hábito

Retomada aproxima enxaguantes do cotidiano do consumidor, para alegria de PET

Nos mais variados sentidos já foi dito que brasileiro é bom de boca e, fora da galhofa, uma prova é o país atrás apenas dos EUA e China entre os maiores consumidores de produtos de higiene oral no planeta, com vendas crescendo à média acima de 5% ao ano, atestam calculadoras setoriais. Entre as categorias de maior potencial, desponta um dos raros nichos de produtos de higiene pessoal dominados por frascos transparentes de PET: os enxaguantes bucais. No consenso do ramo, eles ainda não fazem parte da lista de compras regulares do consumidor, mas tudo indica que, com a saída da recessão azeitada pela melhora do poder aquisitivo, os enxaguantes devem perder a aura de artigos supérfluos e, de gota em gota, ampliar a penetração nas classes de renda menor.

“O uso frequente do enxaguatório bucal está muito relacionado a uma questão cultural”, associa Lincoln Monteiro de Castro consultor especializado em higiene oral e que assessora a fabricante de enxaguantes Dentalclean. “Quando o consumidor adota o uso regular do produto, percebe o ganho ocorrido no hálito e limpeza bucal, enraizando este hábito no seu cotidiano”. A limpeza oral, ele assinala, compreende as versões mecânica e química. Segundo Castro, o consumidor nem sempre se preocupou com a primeira, mas a assepsia química proporcionada pelo enxaguatório tem feito suas vendas subirem acima da média do mercado de saúde bucal, devido à sua incorporação ao dia a dia do usuário. “Lembra a TV a cabo: quem tem condições de assinar canais a seu gosto pode, sob crise financeira, até reduzir o pacote de opções, mas não consegue mais ficar sem o serviço”.

Como produtos de maior valor agregado, o segmento dos enxaguantes sentiram na pele das vendas a recessão dos últimos anos, mas não ficou passivo. “A crise provocou várias mudanças e o chamado movimento ‘trade down’ possibilitou a experimentação de novas marcas e packs promocionais”, expõe Castro. “A estratégia ‘leve mais por menos’ evidenciou-se na crescente comercialização de garrafas contendo 600 ml e 1.000 ml de enxaguatório e os fabricantes promoveram versões mais requintadas, tentando trazer à percepção do consumidor os ganhos advindos da limpeza aliada a múltiplos benefícios, como o branqueamento dos dentes”. No mercado mundial, detalha o consultor, lançamentos têm sido bombeados por tendências a exemplo do emprego de ingredientes de pegada ecológica, como sabores de ervas, ou saudável, como formulações sem álcool.

Para sobressair perante à concorrência, explica Castro, a Dentalclean, na ativa em enxaguantes desde 2008, transita em duas frentes. “Atuamos com licenciamentos para estimular o uso infantil e pesquisas de opinião nos motivaram a assediar o público adulto com quatro tipos de refrescância, uma razão da penetração da Dentalclean na faixa jovem”.
Castro justifica a prevalência quase absoluta de PET na embalagem dos enxaguantes com base em impulsos para compra e custos de produção. “A alta transparência de PET permite a visualização do enxaguante e sua coloração auxilia na escolha do consumidor”, ele nota. “De outro ângulo, como é muito forte a oferta no Brasil de pré-formas para garrafas de refrigerantes e água mineral, sua disponibilidade e baixo custo levam as indústrias de enxaguatórios a optar pelo poliéster para as embalagens”. Sediada em Londrina, no norte parananese, a Dentalclean sopra internamente, em linha chinesa não especificada, as pré-formas adquiridas de terceiros para o envase de mais de 180.000 litros ao ano de seus enxaguantes.

Há pouco mais de um ano no segmento, a catarinense Condor ainda tramita na montagem do processo de distribuição de seus enxaguantes, para os quais compra suas embalagens sopradas de PET, esclarece Gerson Grohskopf, coordenador de marketing da divisão de higiene bucal da empresa baseada em São Bento do Sul. À parte a excelência de suas propriedades e processabilidade, a seleção do poliéster para os frascos é uma imposição tácita do mercado, ele interpreta. “A condição de produto de uso bucal é decisiva para o consumidor querer enxergar o enxaguatório e atributos como limpidez e qualidade”, pondera o executivo. “Se tiver um visual menos atraente e preço muito diferente da média, o comprador até pode desconfiar da qualidade oferecida por um produto estranho no ninho do segmento”.

Grohskopf lembra, a propósito, estudos de desenvolvimento de embalagens da Condor em que concepções mais ousadas não fisgavam o reconhecimento do consumidor. Em marketing, ele prossegue, os chamados ‘códigos de categoria’ determinam como o consumidor rotineiramente se relaciona e reconhece cada uma delas. “Para um fabricante de enxaguatório, fugir demais desses códigos, embute o risco de levar seu produto a ser desconsiderado pelo público entre as opções de compra”. Portanto, ele deixa evidente, o frasco de PET constitui um código da categoria dos enxaguantes bucais.

A Condor centra o foco em enxaguantes no público dos baixinhos. “Já atuamos também no mercado adulto, mas adotamos por ora a estratégia de trabalhara apenas o segmento infantil”, conta Grohskopf. “Desse modo, o enxaguatório complementa nossa linha de produtos finais infantis e, aliás, a Condor é lider em escovas dentais para este consumidor”. Para laçá-lo, ele completa, seus enxaguantes possuem licenciamentos – Lilica Ripilica e Hot Wheels – comuns aos demais artigos da divisão de higiene bucal.

O impacto da recessão nos últimos anos sobre o mercado de enxaguantes não deve ser subestimado, deixa patente Grohskopf. “Houve retração e abandono do consumo, em especial por famílias de classes média e baixa”, ele constata. “Como o enxaguatório é visto como artigo supérfluo, não indispensável à higienização oral, ele forma entre os candidatos a corte nas listas de compras em fases de baixa no orçamento doméstico”. Antes da crise irrompida em 2015, ele repassa, o movimento de enxaguantes evoluía à média anual de dois dígitos. “Agora, sob o início da retomada, a demanda volta a aquecer”.

Vestidas para arrasar

As máquinas que fazem sorrir os frascos de enxaguantes

“Além de tiragens menores de embalagens, o segmento de enxaguantes bucais marca pela ausência de padronização no desenho das tampas, gargalos e copos dos frascos de PET”, constata Paulo Carmo, gerente do negócio de embalagens no Brasil da canadense Husky, quintessência global em sistemas de injeção de pré-formas. Essa peculiaridade, prossegue o especialista, requer pré-formas para cada aplicação. “Isso fragmenta os volumes, tornando a produção de PET menos interessante, pois uma grande vantagem do processo do poliéster é a garantia dada ao transformador de um custo de produção menor em grandes volumes, como se nota em refrigerantes, água mineral e óleo comestível”. Para Carmo, a supremacia de PET para acondicionar enxaguantes é mérito da transparência e qualidade final do frasco soprado. “Trazem ao produto a ‘premiunização’ desejada pelas marcas, atendendo à percepção de qualidade buscada nos consumidores e refletida na cor do líquido mostrada pela embalagem”.

Enxaguante bucal é produto estável, define Carmo e, no geral, seu recipiente prescinde de barreira adicional – à luz, UV ou oxigênio, por exemplo. “Daí porque esta aplicação é assegurada pela pré-forma monocamada, cuja excelência na produção é o chamariz do sistema de injeção HyPET HPP5 da Husky”, ele completa.

O império de PET em enxaguantes bucais tem a ver com a tendência humana de se querer visualizar o conteúdo do produto adquirido no frasco translúcido, como se nota também em adoçantes, cosméticos e produtos de limpeza, ilustra Silvio Rotta, diretor comercial da filial brasileira da alemã Krones, marca da elite de sopradoras de pré-formas . “Além disso, tanto na cotação da resina como nos custos de processo, PET é mais acessível que polietileno de alta densidade (PEAD), a resina dominante em frascos opacos”. Nos casos em que o poliéster ainda não avançou sobre a poliolefina, pesam considerações como o costume enraizado no público por uma embalagem opaca, ou então, o investimento em equipamentos. “Mas a mudança é caminho sem volta”, sustenta Rotta.

A única peculiaridade do sopro de PET para envasar enxaguantes bucais, ele aponta, diz respeito ao design do recipiente. “O frasco do enxaguante não é cilíndrico nem quadrado. Assim, o sistema de sopro da pré-forma requer controle mais detido de temperatura nas áreas das arestas da embalagem retangular, provido pelo denominado sistema de resfriamento preferencial”, esclarece o executivo. “Com capacidade projetada em 15.000 frascos/h, nossa sopradora Kosme ProShape dispõe desse sistema e sua importação desfruta de ex-tarifário”. Por sinal, a Krones acena para embalagens de enxaguantes com uma célula fabril: alimentação da pré-forma, sopradora, transportadora, enchedora/tampadora, empacotadora (papelão ou shrink) e robô paletizador.

O vidro de plástico

PET se aboleta em antissépticos bucais desde 1994, quando apeou vidro dos frascos de um pêndulo do ramo, o enxaguante Listerine, marca da Johnson & Johnson, informam Luis Bittencourt e Rodolfo William de Moraes, respectivamente gerente de vendas de PTA/PET e assistente técnico da PQS Alpek, maior produtora do poliéster no país. “Com essa mudança, a empresa buscava manter a transparência da embalagem e a visualização das cores do líquido com uma embalagem mais prática, segura e leve, sendo seguida pela concorrência atrás dos mesmos benefícios”, eles esclarecem. Para moldar frascos de enxaguantes, Bittencourt e Moraes pinçam do portfólio de sua empresa a resina mais clara ali disponível, o grade MW, com índice de viscosidade intrínseca de 0,80 dl/g e teor de acetaldeído abaixo de 2 ppm. “No entanto, a presença dessa substância não é tão relevante para embalar enxaguantes, formulações de sabor muito pronunciado, na mão oposta do exigido para água mineral, de características organolépticas mais sensíveis”.

No balcão dos materiais auxiliares, a norte-americana PolyOne forma opinião em colorantes e aditivos para aprimorar propriedades de PET. “Nosso serviço de atendimento proporciona vantagens como a precisão na dosagem da solução de cores em baixos teores, configurando um grande benefício financeiro na aplicação”.

Tiragens menores de frascos de PET são a praia do sistema de injeção, estiramento e sopro integrados. “Facilita a operação e, como não é fácil encontrar no mercado pré-formas standard para embalagens de enxaguantes, o processo de injeção de pré-formas (em geral com proteção UV) e estiramento e sopro em um estágio possibilita a adequação do tamanho e peso dos frascos à necessidade do cliente”, defende Roberto Guazzelli, representante comercial da Nissei ASB Sudamérica, ás de ouros do Japão nessa tecnologia e na construção de injetoras de pré-formas para produção de frascos em sopradoras.
Com base no tamanho dos frascos e na capacidade de produção requerida, a máquina integrada da Nissei ASB mais flexível para embalagens de enxaguantes é a versão 4 do modelo ASB70DPH”, distingue Guazzelli. “Além de dispor de servomotor, trunfo para a economia energética, esta linha se diferencia pela estação de condicionamento, que aprimora a distribuição de material na parede do frasco mediante ajuste de temperatura por comandos simples”, assinala o técnico. Sem esta estação, ele completa, todos os ajustes devem ser feitos diretamente na pré-forma, o que a torna específica para cada aplicação e inviabiliza, em determinados casos, seu aproveitamento em frascos de desenhos muito diferentes.

“Vejo no mercado de enxaguantes muitos frascos resultantes de pré-formas genéricas de garrafas de refrigerantes e água mineral”, atesta Guilherme Marchetto, gerente comercial da Aoki Techincal Laboratory do Brasil, dínamo nipônico na montagem de máquinas integradas. A transposição para os enxaguantes requer adaptações nessas pré-formas multiuso, observa o executivo. “Isso torna os frascos mais pesados e com péssima distribuição de resina na parede”, ele aponta. A seu ver, marcas menores ou novatas em enxaguantes costumam recorrer a essas pré-formas. “Lembro apenas de uma única marca possuidora de pré-forma exclusiva”.

A depender da produção de cada modelo de frasco de uma família de enxaguantes, Marchetto elege como máquinas integradas mais talhadas para o segmento os modelos Aoki ALL 300-50 e AL 350LL-40, com base em seu ciclo rápido, número de cavidades e economia de energia e operação e manutenção simples. “Também podem trabalhar com polietileno”, insere o gerente. No Brasil, ele percebe, a maioria das embalagens de enxaguantes ainda é produzida em linhas maiores (injeção e sopro em separado), pois, em determinado momento, alguns tranformadores dispunham apenas desse tipo de máquina. “Se um projeto de produção de frasco de enxaguante partir da estaca zero, nossos dois equipamentos integrados são os mais indicados”, sustenta Marchetto. “Em relação aos modelos ALL 300-50 e AL 350LL-40, o investimento em moldes e máquinas e o custo final da embalagem são bem inferiores aos das máquinas maiores do processo em dois estágios”. •

 

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